“Deus decorou os céus com constelações (Nakṣatras) como pérolas em um corcel escuro. A Luz do Sol (Sūrya) as esconde durante o dia e todo o conhecimento é profetizado na escuridão da noite.” — Parāśara Muni, Ṛk Veda 1.68.04

As malhas que prendem a alma

Por que estou nesse mundo, o que de fato me trouxe aqui? Qual ou quais objetivos? Qual minha missão? Quantas vezes as pessoas não se perguntam isso?

Em Astrologia Védica, o desejo que ata uma pessoa à roda das encarnações, é conferido pela posição de Rāhu em uma Carta Natal. Ele é o motivador. Em seguida, qual ou quais meus objetivos (Dharma, Artha, Kāma e Mokṣa), é dado pelo planeta que tem força direcional a partir do Āruḍha Lagna (AL) e não de outro modo. E, por fim, qual direção (profissional) tomar na vida, é dado pelos planetas que possuem força direcional a partir do Lagna. 

Exemplos básicos de direções profissionais a partir do planeta com força direcional -- Sol, governo e políticos; Lua, medicina tradicional ou não e cuidados com os outros; Marte, forças armadas, policia, militarismo; Mercúrio, comércio, negócios, empreendimentos comerciais; Júpiter, professor, astrologia e juiz; Vênus, setor artístico em geral e administração; Saturno, trabalhador de base; Rahu, carrasco; Ketu, sábio, eremita.


Quanto aos objetivos de vida, estes são vistos sempre a partir do AL e nunca do Lagna – Júpiter e Mercúrio objetivam à realização do Dharma (casa 1, Leste); Vênus e Lua objetivam a realização de Mokṣa (casa 4, Norte); Saturno objetiva a realização de Kāma (casa 7, Oeste); Sol e Marte objetivam a realização de Artha (casa 10, Sul). Se estes possuem força a partir do AL, sabe-se que este é o objetivo de Jīva neste mundo.

Em outras postagens falei sobre a direção que cada um tem força. Eles podem ter força inteira ou meia força (digbala ou meio digbala). A meia força se dá quando ele está colocado nas casas adjacentes (anterior ou posterior) aos pontos referidos. Ainda assim essa força deve ser considerada.

Note sempre que Rāhu é como Saturno, ambos obtêm sua força direcional no Oeste do quadrante, a casa 7 que faz parte do eixo trikoṇa kāma, o eixo do desejo. Rāhu detém a chave para explicar a reencarnação, enquanto Saturno é responsável pelas obsessões que atam o indivíduo a esta roda. Isso tanto é verdade que quando Saturno pula a Lua Natal (a mente/emoção), o indivíduo se torna obsessivo por algo na vida. Difícil é até mesmo dissuadi-lo de que aquele caminho irá leva-lo à derrocada, pois tudo parece tão certo e perfeito que melhor não interferir.

Júpiter e Mercúrio são fortes ao Leste (Dharma), de modo que eles são os protetores do Dharma, Júpiter como Viṣṇu, elemento Ākāśa, e Mercúrio como Gaṇeśa, elemento Pṛthvi. Note que Júpiter tanto está associado com Viṣṇu quanto com Śiva em uma Carta. É exatamente neste ponto que a confusão surge em determinar qual a forma da Divindade deve ser estabelecida em adoração e, incorrendo em erro, alguns afirmam que isso dependerá da linhagem Vaishnava ou Shaivista a que pertence o astrólogo. Não é bem assim. Mas por agora não falarei sobre esse assunto.

Se vocês analisarem os planetas a partir do Kālacakra, entenderão quem obstrui quem e, então, poderão compreender o papel de cada um dentro da realização de Jīva aqui neste mundo. Como exemplo dado a Rāhu, quem obstrui este Nodo é Mercúrio, um dos mais fortes guardiões do Dharma, ou seja, Śrī Gaṇeśa. Entenda que Mercúrio obstrui Rāhu, mas Mercúrio não é obstruído por Rāhu. Aqui não se trata de inimizade natural, mas sim de capacidade que um planeta tem de obstruir outro. Śrī Gaṇeśa é a divindade associada com Ketu (mokṣa kāraka), mas ele é a Divindade que preside sobre Pṛthvi Tattva, elemento de Mercúrio, o obstrutor de Rāhu. Então Śrī Gaṇeśa desempenha o seu maior papel em Jyotiṣa dessa forma. Ou seja, ele permite que o Dharma seja realizado, obstruindo Rāhu (a força que puxa para baixo) diretamente e levando o indivíduo para a direção oposta de Rāhu, isto é, Ketu (a força que puxa para cima), liberando o indivíduo de suas múltiplas encarnações.
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Observações adicionais:


Que tipo de obstrução é essa? O planeta que obstrui outro é chamado de Kāla Graha. Assim, supondo que alguém tenha Júpiter com digbala a partir do Lagna ou do AL. Então, quando essa pessoa passar pelo período de Rāhu ela vai encontrar muitas obstruções e sofrimento em sua vida, porque Rāhu obstrui Júpiter, ou seja, ele é o Kāla Graha de Júpiter. O período mais difícil na vida de qualquer indivíduo é aquele dado pelo Kāla Graha de um outro que possui digbala, e somente SE aquele planeta possuir digbala. Serão sempre momentos difíceis. Para que isso não aconteça, a pergunta principal deve ser feita. Esta pessoa veio com qual objetivo de vida a realizar? A partir disto, lança-se mão da divindade específica para facilitar sua caminhada nesta vida. Entretanto, a escolha da divindade parece algo difícil até mesmo para muitos astrólogos. Essa dúvida é fácil de ser esclarecida quando se observa se o planeta com digbala está no seu estado de exaltação ou debilidade, ou a caminho desses estados, se está ou não associado com outros planetas masculinos e femininos e outras regrinhas básicas de determinação.

Quanto ao remédio aplicado nestes casos, é sempre a forma da Divindade associada ao planeta, nunca o planeta diretamente. Usa-se mantras de planetas somente para agir diretamente sobre o corpo, para remover doenças, para equilibrar os humores e o estado mental. Para eventos que protegem a direção de vida a tomar, é a divindade associada ao planeta o remédio mais indicado.


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Fonte de Consulta ---
A Course on Jaimini Maharsi's Upadesa Sutra, por Pt. Sanjay Rath.

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1. AL  mostra o Objetivo de Vida (Dharma, Artha, Kāma e Moksha), e também a direção no quadrante onde o nativo realizará e obterá sucesso em seu ofício (profissão). Este último, a profissão, é dado pelo planeta que tem força direcional a partir do Lagna.
2. A Força Direcional (Digbala) é dada pelo Tattva que o planeta governa. Não se trata aqui do governo que cada planeta tem em uma das 10 direções do Quadrante (o Lagna incluído). Portanto, Rahu é como Saturno por governar sobre Vāyu e ter seu digbala ao Oeste, na casa 7, a casa que representa o fim da vida e que determinará se o indivíduo voltará a este mundo ou se irá para Lokas mais elevados.