CRONOLOGIA DA ASTROLOGIA HINDU
Linha do tempo comentada (Jyotiṣa na Índia)
-
Vedāṅga-Jyotiṣa (período védico tardio, sécs. II–I AEC, recensão de Lagadha).Função litúrgica (calendário para rituais), cálculo de tithis, nakṣatras e intercalação — a “proto-astronomia” do Jyotiṣa nasce aqui. Edições críticas e notas introdutórias indianas confirmam o caráter vedantico e a natureza calendárica do texto. IGNCAAcademia Nacional de Ciências da Índia
-
Primeiros séculos da Era Comum: contatos “Yavana”.Traduz-se/adapta-se material helenístico em sânscrito (Yavanajātaka; tradição do “Yavaneśvara” como fonte de Sphujidhvaja). A datação e a natureza da obra são debatidas; na Índia, o Indian Journal of History of Science publica discussões de K. S. Shukla sobre cronologia e leitura crítica dessa tradição. Academia Nacional de Ciências da Índia
Séculos II–III EC (Era Comum): faixa em que a horoscopia grega entra em sânscrito segundo a leitura clássica de Pingree para o Yavanajātaka (tradução por Yavaneśvara em 149 EC e versificação por Sphujidhvaja em 269 EC). Wikipedia
-
(Com a ressalva acadêmica): estudos de Bill Mak reabriram o dossiê e empurram a redação do texto para os sécs. IV–VI EC; por isso, para ser rigorosa, é “II–III EC (Pingree) ou IV–VI EC (Mak)”. journals.library.ualberta.caWisdom Library
-
Séc. VI EC: a consolidação varāhamihiriana em Ujjain – Pañca-siddhāntikā (que já lista Romaka e Paulīśa) e Bṛhat-saṃhitā (onde aparece o famoso verso elogiando a ciência dos Yavanas). Isso mostra o material helenístico já integrado ao cânone. Internet Archiveindianculture.gov.in+1
-
Gupta e pós-Gupta (sécs. V–VII): consolidação clássica.Varāhamihira (Ujjain) compõe o Pañca-siddhāntikā (resumo de cinco siddhāntas, incluindo Romaka e Pauliśa) e o enciclopédico Bṛhat-saṃhitā; a versão crítica e a edição/ebook estão no portal Indian Culture (Ministério da Cultura). A célebre passagem sobre os Yavanas reconhecer a excelência estrangeira na ciência astral aparece nos capítulos iniciais. indianculture.gov.in+1
-
Escola matemática-astronômica (sécs. V–XII): base do Siddhānta.Āryabhaṭīya (499 EC), Brahmagupta (628), Bhāskara II (1150) estruturam os cálculos astronômicos que sustentam horas, calendários e efemérides usadas por astrólogos. A INSA cataloga edições e estudos em sua página de História da Ciência. Academia Nacional de Ciências da Índia
-
Medievo astrológico (sécs. XI–XV): sistematizações de Horā.Śrīpati (Maharashtra) — Śrīpati-paddhati; Kalyāṇavarman — Sārāvalī; Vaidyanātha Dīkṣita — Jātaka-parijāta. Temos edições indianas: Śrīpati-paddhati (ed. Subrahmanya Sastri), Sārāvalī (Chowkhamba/Ranjan), Jātaka-parijāta (Motilal/Chaukhamba). ia601300.us.archive.orgExotic India ArtMotilal Banarsidass
-
Período indo-persa (sécs. XVI–XVII): Tājika (varṣaphala, praśna).Nīlakaṇṭha Daivajña (Kāśī): Tājika-nīlakaṇṭhī (1587 EC), em dois blocos — Saṃjñā-tantra e Varṣa-tantra; há edições indianas antigas (Khemraj/Śrī Venkateshwar Press; Chaukhamba). Balabhadra (1649): Hāyanaratna, tratado-síntese do varṣaphala; conservação em acervos indianos (DLI). Internet Archive+1Exotic India Art
-
Início da modernidade (séc. XVIII): observatórios e zij.Sawai Jai Singh II (Jaipur) ergue os Jantar Mantar e compila o Zīj-i Muḥammad Shāhī. A dimensão técnico-instrumental (yantra) fecha um ciclo da tradição siddhānta com infraestrutura régia; documentação no portal Indian Culture e UNESCO. indiaculture.gov.inCentro do Patrimônio Mundial da UNESCO
Contexto anterior (pré-EC, só para situar): a presença político-cultural grega no norte da Índia está atestada no séc. II–I AEC (Indo-Gregos, Antes da Era Comum); uma prova epigráfica é a inscrição de Yavanarājya em Mathurā, datada ao ano 116 da era Yavana ≈ 70/69 AEC (Antes da Era Comum). Isso é prelúdio de contato, embora não seja ainda horoscopia em sânscrito. ora.ox.ac.uk
Fases de influências externas (como a tradição as integrou)
-
Helenística (séculos I–VI EC): léxico e técnicas horoscópicas entram via Yavana- corpora e, sobretudo, via Pañca-siddhāntikā, que incorpora Romaka e Pauliśa; Varāhamihira reconhece explicitamente a ciência “estrangeira” (yavana). Base textual e institucional: Bṛhat-saṃhitā e Pañca-siddhāntikā em acervos do Ministério da Cultura. indianculture.gov.in+1
-
Perso-árabe/islâmica (séculos XIII–XVII): formação do Tājika (varṣaphala, praśna com sahams, aspectos tajika, munthā), sistematizado por Nīlakaṇṭha (1587) e por Balabhadra (1649). Internet Archive+1
Clássicos e autores (com notas de paramparā/região)
Horā (natal/preditiva)
-
Bṛhat-Parāśara-Horā-Śāstra (BPHS) — atribuído a Parāśara; as recensões impressas são modernas (séc. XX) com divergências (71/97/99 capítulos). Edições indianas: Kashi Sanskrit Series/Chaukhamba (Devacandra Jha; sânscrito+hindī); outras linhas editoriais (Sitaram Jha, etc.). Ponto crítico: o texto circulante é canônico na prática, mas filologicamente composto; as edições indianas preservam variantes. Internet ArchiveExotic India Art
-
Sārāvalī (Kalyāṇavarman) — compêndio medievo de yogas e técnicas; edições Chowkhamba/Ranjan. Exotic India ArtGoogle Books
-
Jātaka-parijāta (Vaidyanātha Dīkṣita) — síntese avançada; edições Motilal/Chaukhamba. Motilal BanarsidassInternet Archive
-
Śrīpati-paddhati (Śrīpati, Maharashtra, séc. XI) — método de julgamentos e aṅgas; edição de V. Subrahmanya Sastri. ia601300.us.archive.org
Praśna (horária)
-
Praśna-mārga (Nārāyaṇa Nambūtiri, Kerala, 1649) — tradição keralesa de horária; presença robusta em catálogos do ORI/University of Kerala e edições com texto e comentário locais. campuslib.keralauniversity.ac.in+1
Tājika (varṣaphala/annual revolution e praśna em chave tajika)
-
Tājika-nīlakaṇṭhī (Nīlakaṇṭha Daivajña, 1587): Saṃjñā-tantra (terminologia) + Varṣa-tantra (técnica anual). Impressos indianos (Khemraj; Chaukhamba) e tradição pedagógica viva. Internet ArchiveExotic India Art
-
Hāyanaratna (Balabhadra, 1649) — manual-síntese tajika; exemplar em coleções indianas (Digital Library of India). Internet Archive
Saṃhitā (mundana, omens, arquitetura, etc.)
-
Bṛhat-saṃhitā (Varāhamihira) — enciclopédia de saṃhitā; ebook/edição no Indian Culture. indianculture.gov.in
Siddhānta (astronomia matemática de suporte)
-
Āryabhaṭīya (Āryabhaṭa), Brāhmasphuṭa-siddhānta (Brahmagupta), Siddhānta-śiromaṇi (Bhāskara II) — bases computacionais de cálculos astrais usados por astrólogos; documentação e bibliografia nos repositórios da INSA. Academia Nacional de Ciências da Índia
Notas críticas sobre o BPHS (edições indianas)
-
Fixação moderna: as primeiras impressões conhecidas são do início do séc. XX (Bombaim/Varanasi), seguidas por Chaukhamba (Kashi Sanskrit Series). Os números de capítulos variam por recensão; as edições indianas (Devacandra Jha/Chaukhamba; Sitaram Jha/Varanasi) registram diferenças e interpolam lacunas. Conclusão prática: tratar o BPHS como corpus pedagógico-tradicional, cruzando com Varāhamihira/Śrīpati/Kalyāṇavarman conforme o tema. Internet ArchiveExotic India Art
Escola de Sanjay Rath (SJC), sua origem e paramparā
-
Origem institucional: Śrī Jagannāth Center (SJC), fundado na Índia (1998), com objetivo de ensinar Jyotiṣa “no padrão de Parāśara e Jaimini” em formato guru-śiṣya; braço avançado: Jaimini Scholar Program (JSP), curso multi-ano centrado nos Upadeśa-sūtra de Jaimini. Sanjay Rath+1Jaimini Sutra
-
Paramparā declarada: linhagem Śrī Acyutānanda Dāsa (um dos Pañca-Sakhā de Odisha/Puri, associado a Śrī Jagannātha). A tradição é apresentada como paramparā odia de Jyotiṣa; os materiais oficiais do SJC reiteram essa filiação. Sanjay Rath
-
Enraizamento familiar/ensino: o próprio Sanjay Rath declara descender de família de astrólogos de Puri (Bira Balabhadrapur Sasan), discípulo do tio Pt. Kāśīnātha Rath; a página institucional detalha essa genealogia. Sanjay Rath
Em suma, a “escola de Sanjay Rath” se coloca explicitamente na tradição Parāśara–Jaimini (Horā), com ênfase em transmissão oral (paramparā) de Odisha e um currículo formalizado (JSP) para sistematizar a prática e o comentário dos sūtras, preservando mantra-śāstra e upāsanā como parte do treinamento. Sanjay Rath+1
Observações metodológicas (por que estas fontes)
-
Consultas feitas nos portais governamentais e acadêmicos da Índia para assentar cronologia e textos (IGNCA/Indian Culture; INSA/IJHS; catálogos universitários como ORI Kerala; editoras indianas — Chaukhamba, Motilal, Ranjan). Para Tājika e tradição recente (SJC), citei páginas oficiais indianas do próprio centro. Onde a Índia não oferece uma página institucional específica (p. ex., manuscritos ou edições antigas), recorri a repositórios com edições indianas digitalizadas (Digital Library of India/Archive.org). IGNCAindianculture.gov.inAcademia Nacional de Ciências da Índiacampuslib.keralauniversity.ac.inInternet Archive
Astrologia Nāḍī - Uma Reconstrução Moderna
Aqui a Astrologia Nāḍī está sendo tratada com rigor histórico: o termo aparece em dois sentidos distintos no Jyotiṣa — (a) como corpus de textos (Nāḍī/saṁhitā, muitos em folhas de palmeira em tâmil e também em sânscrito), e (b) como técnica de microdivisões do signo (nāḍī-aṁśa, 150 por rāśi), muito usada no tratado sânscrito Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī). Esses dois eixos se cruzam, mas não são idênticos.
Quando surgiu? Origem e formação (o que é sólido em acervo indiano)
1) A vertente tâmil (folhas de palmeira)
-
Gênero e centros: os chamados Nāḍī granthas (p.ex., Saptarṣi Nāḍī, Agastya Nāḍī, Nandi Nāḍī) circularam sobretudo no delta de Kaveri (Thanjavur/Mayiladuthurai) e no eixo do templo de Vaitheeswaran Koil (Tamil Nadu). Há edições oficiais de partes do Saptarṣi Nāḍī pela Government Oriental Manuscripts Library, Madras na série Madras Government Oriental Series, organizadas por lagna (Mēṣa-lagna, Kanyā-lagna, etc.). Isso dá lastro material à existência do gênero e mostra como ele é formado textualmente (por lagna, em versos). ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
-
Acervos e custódia: os grandes repositórios indianos de folhas (tâmil/sânscrito) — Sarasvati Mahal Library, Thanjavur; GOML, Chennai — guardam e publicaram parte desse material; o catálogo e a série de publicações são públicos. Internet Archive+2Internet Archive+2Incredible India
-
Cronologia realista: as primeiras edições impressas dos Nāḍī em Tamil (p.ex., Saptarṣi Nāḍī) são século XX, a partir de folhas mais antigas; as cópias de folhas que chegaram às bibliotecas são geralmente tardo-medievais/moderno-início (muitos testemunhos séculos XVIII–XIX; a cópia e recópia é contínua). O fato duro é a publicação oficial pelo Governo de Madras no século XX, ancorada em manuscritos em Tamil. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
-
Prática local: a tradição de leitura (famílias de nāḍi-jyotiṣars) se fixa no entorno de Vaitheeswaran Koil, com imensa notoriedade turística/ritual hoje; o Governo do Tamil Nadu e o portal Incredible India descrevem o templo e, em comunicações oficiais de turismo, chamam o lugar de “berço”/“nerve centre” de Nāḍī (ainda que a página institucional do templo enfatize sobretudo o culto de Śiva). TamilnadutourismFacebookIncredible India
Como esses textos são “formados”: os volumes oficiais do Saptarṣi Nāḍī mostram a organização por lagna (p.ex., Mēṣa-lagna, Kanyā-lagna), com casuística versificada: posições planetárias “chave” → enunciado do caso → eventos/biografia. Não são “tratados axiomáticos”; são coleções de casos indexadas por configuração, daí o uso escolar como material de leitura/ilustração e não como “manual” no estilo Parāśarī. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
Linhas de transmissão (“paramparā”) declaradas nessa vertente costumam invocar ṛṣis/siddhas (Agastya, Nandi, Saptarṣi) e famílias de leitores no eixo Vaitheeswaran–Thanjavur. Isso é autoapresentação tradicional; o que é documentalmente seguro, do ponto de vista acadêmico indiano, são as edições do GOML/Madras e os acervos (Sarasvati Mahal, etc.). ia601400.us.archive.orgInternet ArchiveIncredible India
2) A vertente sânscrita/keralesa — Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī)
-
O que é: um vasto nāḍī-saṁhitā sânscrito, tradicionalmente atribuído a Āchyuta e Venkateśa (dois estratos autorais), preservado em mais de 8.000 ślokas e impresso na Índia (Sagar) com digitalização pela Digital Library of India. A própria introdução indiana indica dupla autoria e o nome “Kerala” como proveniência cultural (sem datas internas firmes). ia801405.us.archive.orgInternet Archiveebharatisampat.in
-
Como opera: trabalha intensamente com nāḍī-aṁśa (150 microdivisões por signo), vargas e chaves preditivas especificadas a partir de graus/partes — uma engenharia muito mais sistemática do que a casuística dos volumes tâmis. É, por assim dizer, a “espinha técnica” nāḍī em sânscrito, com forte sabor keralês. ia801405.us.archive.org
-
Inserção institucional: consta em catálogos universitários indianos (ex.: Universidade de Kerala) e na DLI/Archive como edição/scan de origem indiana. campuslib.keralauniversity.ac.inInternet Archive
Quem propagou a linhagem? (transmissão e atores)
-
Edição e institucionalização (século XX): o Governo de Madras (GOML) publicou vários fascículos do Saptarṣi Nāḍī (língua tâmil) na sua série Oriental — é o momento em que o material entra no circuito editorial público indiano. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
-
Casas editoriais e universidades: Sagar Publications e outras editoras indianas difundem o Deva Keralam (traduções/ed. com texto sânscrito), que aparece em catálogos de bibliotecas indianas (Kerala University, etc.). Amazoncampuslib.keralauniversity.ac.in
-
Famílias leitoras (paramparā local): em Vaitheeswaran Koil e entorno de Thanjavur, clãs de leitores mantêm transmissão oral/prática (olaichuvadi jyotiṣam), hoje muito visível no turismo religioso do estado — reconhecido em canais oficiais de turismo do Tamil Nadu. TamilnadutourismFacebook
Influências e interfaces técnicas
-
Parāśarī/Jaimini: muitos Nāḍī (inclusive o Deva Keralam) fundem lógica Parāśarī (vargas, ṣaḍbala, yogas) com chaves nāḍī (microdivisões; “casos” por configuração). Os prólogos editoriais indianos do Deva Keralam mencionam explicitamente a mistura Parāśarī+Nāḍī. ia801405.us.archive.org
-
Kerala-gaṇita: a precisão posicional (graus/partes; nāḍī-aṁśa) tem parentesco com a tradição gaṇita/siddhānta do sul (o que se coaduna com a rubrica “Keralam” do título). ia801405.us.archive.org
-
Siddhar/Śaiva (tâmil): a autoatribuição dos Nāḍī granthas a Agastya, Nandi e Saptarṣi os situa no imaginário siddha/śaiva do Tamilakam; isso é parte do ethos tradicional descrito por centros locais e por peças de divulgação oficiais de turismo. (Isso é tratado como tradição, não como datação acadêmica.) Tamilnadutourism
Estrutura interna (como “é formada” cada corrente)
-
Tâmil / Saptarṣi-Nāḍī: organização por lagna; cada volume (p.ex., Mēṣa-lagna, Kanyā-lagna) traz sequências de casos versificados, com identificação do nativo pela configuração e predições/biografemas associados. Forma = casuística indexada, não capítulos doutrinários. (Ver fascículos publicados pelo GOML.) ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
-
Sânscrito / Deva-Keralam: organização por regras (śloka) que amarram posição exata (rāśi+grau+varga/nāḍī-aṁśa) a predicados específicos; é um manual preditivo sistemático com “DNA” nāḍī. ia801405.us.archive.org
Datas (com honestidade crítica)
-
Proveniência tradicional: atribuição a ṛṣis/siddhas (Agastya, Nandi, Saptarṣi) é devoção/paramparā.
-
O que se pode datar com fontes indianas:
• Publicações oficiais do Saptarṣi Nāḍī pelo GOML/Madras são século XX; indicam manuscritos anteriores preservados em Tamil. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
• Deva Keralam: edição/tradução indiana (Sagar) na década de 1990, a partir de manuscritos/linhas editoriais indianas; a DLI mantém os scans. Atribuição Āchyuta & Venkateśa é interna às edições. ia801405.us.archive.orgInternet Archive
• Ambiente material: a paleografia/tipologia de folhas em Tamil (universidades indianas trabalham com datasets e preservação) ajuda a entender que cópias são muitas vezes séculos XVIII–XIX, mesmo quando a tradição reclama origem antiquíssima (por exemplo, reescreve-se um texto datando-o com data anterior para alegar originalidade/antiguidade e proximidade com os antigos sábios para, assim, obter respeito e notoriedade como uma linhagem antiga e respeitável). PMC
Resumo:
-
Quando surgiu?
Como gênero textual identificável, os Nāḍī tâmis aparecem documentalmente nos acervos de Tamil Nadu e entram em impressão oficial no século XX (GOML/Madras). A vertente sânscrita (Deva Keralam) é keralesa por tradição e foi editada na Índia a partir de manuscritos, com forte ênfase em nāḍī-aṁśa. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.orgia801405.us.archive.org -
Origem?
Tamilakam (Thanjavur–Vaitheeswaran Koil) para os granthas em Tamil (Saptarṣi/Agastya/Nandi Nāḍī); Kerala para o Deva Keralam (Sânscrito). ia601400.us.archive.orgTamilnadutourismia801405.us.archive.org -
Quem propagou a linhagem?
Institucionalmente, o Governo de Madras (GOML) ao publicar o Saptarṣi Nāḍī; editoras indianas (Sagar) ao difundir o Deva Keralam; familias leitoras no eixo Vaitheeswaran–Thanjavur ao custodiar/ler as folhas (paramparā local). ia801400.us.archive.orgAmazonTamilnadutourism -
Como é formada (estrutura interna)?
Tâmil: coleções por lagna (casos versificados); Sânscrito: manual preditivo por regras, com microdivisões (nāḍī-aṁśa) e vargas. ia601400.us.archive.orgia801405.us.archive.org -
Quem influenciou?
A técnica nāḍī dialoga com Parāśarī/Jaimini (vargas, yogas, daśās) e com a tradição gaṇita/siddhānta do sul (precisão posicional). No imaginário e devoção, a filiação é Siddhar/Śaiva (Agastya, Nandi) no Tamilakam. ia801405.us.archive.orgTamilnadutourism
Pistas de estudo (Índia-centradas):
-
Saptarṣi Nāḍī (fascículos por lagna) — Madras Government Oriental Series / GOML (tâmil). Use estes como testemunhos públicos do gênero Nāḍī. ia601400.us.archive.orgia801400.us.archive.org
-
Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī) — edição Sagar; Digital Library of India disponibiliza os PDFs escaneados na Índia; bibliotecas indianas (ex.: Kerala University) catalogam. Internet Archiveebharatisampat.incampuslib.keralauniversity.ac.in
-
Acervos: Sarasvati Mahal Library (Thanjavur); Government Oriental Manuscripts Library (Chennai) — infraestrutura estatal indiana para folhas (palm-leaf). Incredible Indiatamilnadupubliclibraries.org
Tradição Pré-Moderna e Moderna da Astrologia Nāḍī
-
Há tradição pré-moderna: existem manuscritos em folha de palmeira de Nāḍī conservados e volumes oficiais editados na Índia (por ex., Saptar̥ṣi Nāḍī – Kanyā-lagna, “Madras Government Oriental Manuscripts Library”, 1961; e Saptar̥ṣi Nāḍī – Meṣa-lagna, MGOS 1951). Isso mostra circulação histórica do gênero no sul da Índia, não apenas um produto recente. Roja Muthiah LibraryInternet Archive
-
Mas a forma padronizada que é utilizada hoje é moderna: os Nāḍī tâmis entraram no circuito impresso público apenas no séc. XX (série MGOS do Governo de Madras); o grande compêndio sânscrito Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī) teve edições indianas em 1992–1993 (Sagar) e circulação ampla desde então. Ou seja, a fixação editorial e a didatização são modernas. Internet Archive+1Archive.org
-
A técnica de nāḍī-aṁśa (150 partes por signo), marca do Deva Keralam, está documentada nas próprias edições indianas (tabelas dos 150 nadi-aṁśas nos prefácios/Notas). Logo, a engenharia técnica que hoje chamamos de “Nāḍī” é formalizada e transmitida via edições do séc. XX, ainda que se reivindique origem keralesa mais antiga. Archive.orgE-Bharatisampat
-
A popularização contemporânea (centros de leitura em Vaitheeswaran Koil, Tamil Nadu; discurso turístico-devocional) é claramente séc. XX–XXI, reforçando a percepção de “modernidade” na prática pública, embora o culto/manuscritos sejam mais velhos. Incredible India
Pode-se chamar de “reconstrução moderna”?
-
Sim, no plano editorial e pedagógico: o que hoje circula como “Astrologia Nāḍī” — corpora impressos, traduções, tabelas de nāḍī-aṁśa, manuais e cursos — é uma reconstrução/normalização moderna (séc. XX) baseada em testemunhos mais antigos. Internet ArchiveArchive.org
-
Não, se a frase insinuar “invenção ex nihilo”: há lastro documental indiano (MGOS; catálogos e bibliotecas do sul da Índia) e continuidade regional (Tamilakam/Kerala) que antecedem as reedições do séc. XX. Melhor dizer: “tradição sul-indiana de origem pré-moderna, cuja forma corrente resulta de fixação e sistematização modernas”. Roja Muthiah LibrarySerfoji Memorial Hall
Em Suma
“Nāḍī é um gênero preditivo sul-indiano (Tamilakam/Kerala), atestado por manuscritos e impressos oficiais (Governo de Madras, MGOS, séc. XX). A prática e a didática atuais constituem uma fixação editorial e uma re-sistematização moderna — especialmente via Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī) com suas 150 nāḍī-aṁśas — assentadas sobre materiais tradicionais.” Internet ArchiveRoja Muthiah LibraryArchive.org
_________________________________________________________________
Quantos tipos de Astrologia existem na Índia?
1) Nível estruturante (clássico): 3 ramos de Jyotiṣa
-
Siddhānta (Gaṇita) — astronomia/algoritmos (efemérides, cálculos, panchāṅga).
-
Horā — aplicações preditivas ao indivíduo (natal, horária, anual etc.).
-
Saṁhitā — mundana/omens/meteorologia/arquitetura (vāstu), śakuna, utpāta.
Se alguém perguntar “quantos tipos existem?”, a resposta mais canônica é: três.
2) Nível funcional (aplicações que os astrólogos efetivamente praticam): 6 subdisciplinas
-
Jātaka (Horóscopo natal) — leitura de D-1, vargas, yogas, daśās.
-
Praśna (Horária) — resposta a perguntas com base na carta do momento.
-
Muhūrta (Eleccional) — escolha de momentos auspiciosos.
-
Varṣaphala (Tājika anual) — revolução solar e técnicas de ano; tradição “tājika”.
-
Saṁhitā preditiva — mundana (chuvas, colheitas, política), śakuna/utpāta.
-
Sāmudrika-śāstra (periférica, porém frequentemente acoplada) — quiromancia e fisionomia clássicas integradas ao repertório astrológico.
Nesse recorte operativo, pode-se dizer que há seis “tipos” (contando a sāmudrika como área adjacente de uso comum).
3) Nível de linhagens/sistemas (o que muitos chamam de “tipos de astrologia védica”): 8 correntes principais
Clássicas (textuais):
10. Parāśarī — eixo Bṛhat Parāśara Horā Śāstra (complementado por Sārāvalī, Phaladīpikā, Jātaka Parijāta).
11. Jaimini — Upadeśa-sūtras (daśās rāśi-baseadas, cāra-kārakas, ārūḍhas, argalā etc.).
12. Tājika — tradição indo-persa para varṣaphala (Nīlakaṇṭha, Balabhadra), com sahamas, aspectos tajika, munthā.
13. Nāḍī — dois eixos: (a) nāḍī granthas tâmis (p.ex., Saptarṣi/Agastya/Nandi Nāḍī, casuística por lagna); (b) Deva Keralam (Chandra-kalā Nāḍī) em sânscrito/keralês (regras com 150 nāḍī-aṁśas por rāśi).
Modernas/Escolares (século XX, de grande circulação na Índia):
14. Kerala Praśna (Nambūdiri) — escola horária sistematizada a partir do Praśna Mārga (integrada ao item 5, mas reconhecida como “escola”).
15. KP – Krishnamurti Paddhati — cusps “Placidus”, sub-lords (Nakṣatra→Sub) e cronologia fina; muito usada na Índia moderna.
16. Sistemas de abordagem (p.ex., V. K. Choudhry / Systems Approach) — simplificações Parāśarī com regras de ênfase em dignidades e aspectos funcionais.
17. Lal Kitab — corpus híbrido (Punjab/Urdu, séc. XX) com remédios próprios; orbitando a prática védica embora fora do cânone sânscrito clássico.
Nesse plano de “escolas/sistemas”, é honesto dizer: quatro correntes clássicas (Parāśarī, Jaimini, Tājika, Nāḍī) + quatro modernas populares (Kerala Praśna, KP, Systems Approach, Lal Kitab) — ≈ oito “tipos”.
Resumo:
-
Resposta canônica curta: “3 tipos (Siddhānta, Horā, Saṁhitā).”
-
Resposta prática (em consultoria): “6 áreas (Jātaka, Praśna, Muhūrta, Varṣaphala/Tājika, Saṁhitā, Sāmudrika).”
-
Resposta por escola/sistema: “≈8 correntes (4 clássicas + 4 modernas).”
Sobre o BPHS
1) Parāśara existe como ṛṣi védico
Nos anukramaṇīs (índices tradicionais do Ṛgveda), “Parāśara Śāktya” é listado como ṛṣi de um conjunto de sūktas (por ex., RV 1.65–1.73 e parte de RV 9.97). Ou seja: há uma tradição védica estável que associa esse nome a hinos do Ṛgveda. en.dharmapedia.netWikipedia
Nota técnica: os anukramaṇīs (como a Sarvānukramaṇī atribuída a Kātyāyana) registram, para cada hino, ṛṣi, devatā e chandas — é daí que vem a atribuição a Parāśara Śāktya. en.dharmapedia.net
2) O que isso não implica automaticamente
Ser um ṛṣi do Ṛgveda não prova que a versão do BPHS que hoje circula foi redigida por essa mesma pessoa, neste exato formato. Por quê?
-
O BPHS é um śāstra horā de tradição smṛti, compilado e recopiado por séculos, com recensões diferentes (≈71, 97, 99 capítulos) e fixação editorial moderna (séc. XX) — vide edições Chaukhamba/Varanasi e a linha Santhanam (97 caps.). Internet Archive
-
Um comentador do século X, Bhaṭṭotpala, menciona ter ouvido falar do “Parāśara-horā”, mas não o ter visto — sinal de lacuna na transmissão por muitos séculos. vedic-astrology.net
3) Como a tradição indiana lida com “autoria”
Na cultura śāstrica, é comum a voz de um ṛṣi servir como epônimo e garantia de linhagem (paramparā). “Parāśara uvāca …” indica autoridade e origem da doutrina, mas o texto concreto pode ter sido (re)redigido, ampliado e normalizado ao longo do tempo. Isso acontece com outros corpora (p. ex., Manu-smṛti, Yājñavalkya-smṛti): a paternidade tradicional e a estratigrafia textual convivem.
4) Conciliação honesta
-
Histórico-vedicamente: “Parāśara Śāktya é um ṛṣi do Ṛgveda (autoridade antiga atestada pelos anukramaṇīs).” en.dharmapedia.netWikipedia
-
Filológico-textualmente: “O BPHS que usamos hoje é um compósito (com camadas pós-Varāhamihira) e recensões modernas; foi atribuído a Parāśara e transmitido pela paramparā, mas não é um bloco védico intacto.” Internet Archivevedic-astrology.net
5) Em Suma
“Parāśara, ṛṣi védico atestado (RV 1.65–73), está na raiz da paramparā horā. O Bṛhat Parāśara Horā Śāstra é atribuído a ele e preserva uma tradição parāśarī; porém, o texto extante é estratificado e fixado editorialmente em época moderna (com variações de capítulos), razão pela qual o tratamos como cânone prático de uma linhagem antiga, não como um documento védico íntegro.” WikipediaInternet Archivevedic-astrology.net
O que as fontes indianas dizem sobre o BPHS
-
Há consenso editorial de que o texto impresso é uma reconstrução a partir de manuscritos divergentes.
No prefácio da edição da Kashi Sanskrit Series (Chaukhambha Sanskrit Sansthan, ed. e comentário “Sudhā” de Pt. Devachandra Jha), o editor explica abertamente que o Bṛhatpārāśarahorāśāstra transmitido “previamente obtido” (pūrvopalabdha) já traz “mistura de pāṭhāntaras” (variantes), e que os editores modernos também combinam leituras para oferecer um texto coerente — reconhecendo que esse é um trabalho de juízo editorial. Internet Archive -
Datação incerta e lacunas na transmissão segundo os próprios editores indianos.
No mesmo prefácio, Devachandra Jha observa que não há evidência externa ou interna suficiente para fixar o tempo histórico de Parāśara; e cita Bhaṭṭotpala (séc. X) dizendo que viu apenas a Parāśarī Saṁhitā, não o tratado de jātaka — sinal de que um “Parāśara-horā” não circulava com ele. Isso é apresentado como tradição conhecida entre os exegetas indianos. Internet Archive -
Variações materiais entre as recensões usadas por editoras indianas.
R. Santhanam (Ranjan Publications, Nova Deli) afirma no seu prefácio que trabalhou com diversas edições indianas (Venkatesvara Press/Bombaim; Sitaram Jha/Varanasi; Chaukhambha; Thakur Prasad) e assumiu a de Sitaram Jha como base; ele próprio aponta versos/lemas presentes na edição de Benares/Chaukhambha que “não estão na nossa versão” — prova direta de divergência textual entre recensões indianas. Internet Archive -
Testemunhos indianos sobre Bhaṭṭotpala e a “ausência do jātaka” de Parāśara.
Catálogos e notas editoriais em hindi confirmam a leitura tradicional: “Parāśarīyā Saṁhitā kevalam asmābhir dṛṣṭā, na jātakam. Śrūyate…” — vimos a Saṁhitā, não o jātaka; ouvia-se falar de três “ramos” de Parāśara. Essa formulação aparece, por exemplo, em nota editorial de editora indiana (Bharatiya Vidya) ao apresentar o BPHS. bharatiyavidya.com -
Capitulação e extensão variam nas edições indianas — outro indício de redacção.
Há edições com 71 capítulos (impressas na Índia no século XX) e outras com 97 capítulos (linha Santhanam). Uma descrição de exemplar antigo impresso na Índia (Bombaim/Varanasi) registra 71 capítulos e menciona a tradição de “100 capítulos/11.000 ślokas” no colofão final; já a edição de Santhanam lista 97 capítulos no sumário. Essas discrepâncias são documentadas em acervos e descrições indianas. Internet Archive+1
Então… as fontes indianas “sérias” concordam que o texto mudou?
Sim, na prática editorial. Prefácios e notas de editoras tradicionais (Chaukhambha/Kashi Sanskrit Series) assumem que o BPHS disponível hoje resulta de colação e combinação de manuscritos heterogêneos (pāṭhāntaras), e tradutores indianos (como Santhanam) atestam diferenças entre as versões à mão. Isso não é apresentado como fraude, mas como trabalho crítico necessário para reconstruir um texto útil ao praticante. Internet Archive+1
A autoria por Parāśara é aceita ou rejeitada?
Na tradição editorial indiana, a atribuição a Mahārṣi Parāśara é mantida (o texto é apresentado como diálogo Parāśara–Maitreya), mas os próprios editores reconhecem que faltam provas históricas estritas para datar Parāśara ou demonstrar continuidade material do horā-śāstra dele desde a Antiguidade. A citação de Bhaṭṭotpala reforça que, no séc. X, o “Parāśara-jātaka/horā” não era acessível — sugerindo perda e reaparição tardia. Internet Archivebharatiyavidya.com
Há “documentação” que comprove tudo isso?
-
Prefácios e aparatos críticos indianos: o de Devachandra Jha (Chaukhambha, Kashi Sanskrit Series 220) é explícito sobre mistura de variantes e limites de datação, além de citar Bhaṭṭotpala. Internet Archive+1
-
Prefácio de Santhanam (Ranjan Publications): lista as fontes indianas usadas e aponta lacunas/versos ausentes na sua base em relação à edição de Benares. Internet Archive
-
Descrições de exemplares indianos: atestam capitulações diferentes (71 vs. 97 caps.) e tradições de extensão maior, mostrando que não circula um único “texto estabilizado”. Internet Archive
Síntese:
-
Status tradicional: canônico na prática (paramparā mantém Parāśara como autoridade).
-
Status filológico: recensão moderna composta, com múltiplas linhas (Bombaim/Varanasi/Chaukhambha/Thakur Prasad/Ranjan), diferenças de capítulo e lacunas reconhecidas pelos próprios editores indianos.
-
História textual: sinais de hiato de transmissão (testemunho de Bhaṭṭotpala), seguido de recuperação e edição a partir do fim do séc. XIX/XX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário