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Khaḍga Yoga



Hoje, dia governado por Budha Graha, compartilho um pouco do meu conhecimento em Yogas Planetários com os leitores, o chamado Khaḍga Yoga.

Khaḍga é uma arma. Essa espada da imagem ao lado é uma bem conhecida, pois algumas divindades do panteão Hindu a sustentam nas mãos. É a espada que corta a ignorância que nasce do ego. Khaḍga Yoga, portanto, tem a mesma função em Jyotiṣa, ou seja, esse Yoga planetário é doador de conhecimento. Essa é só uma amostra do quanto a Astrologia Védica se encontra indissociável de toda a Mitologia e Cultura Hindu.

Jātaka Parijata, Capítulo 7:150-151 está escrito que – Quando os Senhores do 9ª e do 2º Bhāvas estão, respectivamente, no 2º  e 9º Bhāvas, e quando o Senhor do 1º Bhāva está em um Kendra ou um Koṇa, o yoga Khaḍga é produzido. Pessoas nascidas com Khaḍga Yoga são devotadas ao estudo dos Vedas, da Ciência, da Política e de todas as tradições (...). Elas são livres de inveja ou de paixão e mantêm a mais elevada estima por sua coragem e proeza; elas são inteligentes e sempre gratas em lembrar as gentilezas recebidas.

Esse é um bem conhecido parivartana (quando dois governantes trocam de casa). Mas neste parivartana há uma exigência – o Lagneśa (governante do Ascendente) precisa estar em um Koṇa (1, 5, 9) ou Kendra (1, 4, 7, 10)

Força de Vontade e Livre-arbítrio

Existem outros Yogas que dão elevada inteligência e amor pelos Śāstras ou qualquer que seja a Escritura Sagrada. Mas optei por compartilhar este em especial para explicar que o conhecimento é libertador e doador dos mais elevados méritos nesta vida, o que leva ao fim último desejado (Mokṣa).

Embora não seja minha intenção aqui explicar como se verifica o quantum de livre arbítrio e força de vontade que uma pessoa recebe ao seu nascimento, gostaria de abordar por alto essa importante questão como vinculada ao conhecimento. Pois bem, recentemente publiquei na página de um amigo sobre a força de vontade e o livre arbítrio como grandezas diretamente proporcionais a anteriores atos meritórios. E isto é verdade, quanto mais mérito tem uma pessoa, mais livre arbítrio ela recebe em sua reencarnação para determinar seu destino neste mundo. Não se pode controlar a vontade de uma pessoa que tem mérito para determinar seu próprio caminho. E quando se tenta fazer isso, incorre-se em demérito Kármico. Contudo, pode-se buscar no conhecimento espiritual meios de controlar a si mesmo e tornar, através do estudo e prática do Conhecimento Transcendental, sua trajetória neste mundo facilitada.

Igualmente, quanto maior o conhecimento, maior a responsabilidade, de modo que se você incorre em erro por pura ignorância, o peso não é o mesmo daquele dado a quem erra consciente do próprio erro.

Khaḍga Yoga, assim como outros brilhantes Parivartana Yogas que envolvem o Lagna (Inteligência, Ascendente) e Putra (Śāstras, casa 5) ou o Lagna e Dharma Bhāva (Conhecimento Espiritual, casa 9), é uma poderosa arma que confere a Liberação pela realização em conhecimento, tal como o Jñāna Yoga. Aqui esse parivartana envolve a casa 2 (Dhana, riqueza) e a casa 9 (Dharma, Conhecimento Espiritual), incluindo o Lagna (assento da inteligência). Quem pode se opor e/ou controlar todo aquele que recebeu livre arbítrio e força de vontade nesta vida por anteriores atos meritórios? Khaḍga Yoga ou outros Yogas auspiciosos e que são doadores de conhecimento vêm sempre mostrar uma espécie de proteção naturalmente recebida devido a um bom karma de prévios nascimentos.

Lista de YOGAS PLANETÁRIOS




Pensamentos obsessivos

Pensamentos obsessivos, como se originam, como se desfazer deles.

Um diálogo recente dá origem a essa postagem. Os mais próximos sabem o quanto procuro pautar a prática da Astrologia Védica em seu mais elevado princípio, ou seja, o de auxiliar a natividade na realização de Bhoga-Moksha. Sendo assim, a Astrologia Védica quando praticada desse modo, ajuda na realização dos quatro objetivos de vida – Dharma, Artha, Kama e Moksha. Se qualquer um desses objetivos for afetado, a vida da pessoa se desarmoniza. A cura é meu foco principal, basta ver os planetas que margeiam minha atividade profissional (Amk) para entender o quanto valorizo essa prática e o quanto ponho de energia neste trabalho.

Portanto, durante esse tempo em atendimento, tenho encontrado soluções para vários problemas, sobretudo aqueles de saúde de difícil diagnóstico e cura pela medicina ortodoxa. Jamais é aconselhado que se abandone o tratamento convencional, mas sim que se adicione o tratamento Védico. O remédio base aqui é aquele prescrito para o Kaliyuga – a devoção e a caridade. Em seguida temos a medicina Ayurveda, o Yoga, a Meditação, Pranayamas etc., todos possíveis de serem verificados como medidas corretivas na Carta do querente. A escolha não é aleatória, mas sim determinada pela posição dos planetas que promovem a cura.

A Lua detém a chave para a entrada dos pensamentos obsessivos. É na mente que eles se formam. As causas são inúmeras, mas frequentemente podemos perceber uma ação espiritual por trás desses eventos. Lua colocada em signos fixos (Touro, Leão, Escorpião e Aquário) fazem as pessoas mais inflexíveis em relação aos pensamentos – geram pensamentos fixos. Entretanto, embora esse seja um agravante que, por si só, conduz a uma mente obsessiva, aspectos e yutis dos maiores maléficos como Saturno, Marte, Rahu e Ketu sobre a Lua ou sobre o seu dispositor, tornam-se pontos chaves para declarar graus de obsessão mental, independente da colocação da Lua em signos fixos. Por outro lado, Júpiter e Vênus trazem a cura natural para grande parte desses problemas.

Suicídio em massa – Jim Jones – Lua em Revati em yuti com Rahu, Vênus exaltada e Gulika/Mandi na casa 4; recebe um olhar de Saturno na casa 2. Dispositor da Lua é Júpiter na casa 7. Planetas assassinos são Saturno governante e depositado na casa 2 (domiciliado), Mercúrio governante da casa 7 e em yuti com Sol; Sol por estar em yuti com Mercúrio; e Júpiter (seu Lagnesha) colocado na casa 7. Planetas em yuti com os governantes de casas assassinas, ou colocados nestas casas, tornam-se assassinos também e os primeiros a matar. A 3ª do AL mostra as armas da morte, é Aquário, governado por Saturno (planeta assassino).

O AL recebe unicamente o olhar de Júpiter, então ele só podia ser visto como um Sacerdote. E pessoas que têm o olhar de Júpiter sobre o AL costumam ser persuasivas e magnéticas na personalidade. Essa característica, aliada à Lua tomada por Rahu, Saturno (por olhar) e Gulika, o fez convencer uma multidão de pessoas a cometer o suicídio em massa.

A Lua está terrivelmente afetada pela yuti com Rahu em signo de Júpiter e Gulika/Mandi. Ação mental obsessiva espiritual. Saturno e seus filhos Gulika/Mandi, representam os mortos. Sol, o significador de sua alma, embora também exaltado, está em yuti com Mercúrio, um planeta assassino, então ele se torna um dos primeiros a matar. Pela Vimshottari Dasha sua morte ocorre na junção dos planetas assassinos Sol-Saturno-Júpiter.

Suicídio ou morte natural? – Frida Kahlo – Lua em Touro recebendo um olhar de Saturno; seu dispositor, sendo a 3ª do seu AL, indicando a arma da morte. Pelo fato de a Lua ser o seu Lagnesha e estar na 3ª do AL, mostra seu pensamento voltado sempre para esse assunto. Mesmo a Lua exaltada não foi capaz de minimizar seu sofrimento mental/depressivo, nem tampouco o dispositor da Lua em yuti com Júpiter na casa 12. Note este dispositor junto de Gulika na casa 12 em yuti com Sol em Marana Karaka Sthana; Sol é o significador da alma nesse mundo e aqui ele está morto. Seu AL em yuti com Saturno, mostra uma personalidade sombria, melancólica e com vícios. Marte na casa 6 nega a felicidade conjugal e a combinação desse planeta com Vênus na casa 12 em yuti com Júpiter (karaka de marido) e com Sol e MKS, conduz sua vida sexual para vários relacionamentos tanto com homens quanto com mulheres.  Cai sobre sua morte a suspeita de suicídio, o que é fortemente aceito pela Astrologia Védica, dado os significadores envolvidos. Ela morre nos períodos, pela Vimshottari Dasha, dos planetas Júpiter-Sol-Lua; Júpiter estando em yuti com Sol (assassino por governar a casa 2) e Lua na casa conhecida como Hara, o fim da vida, que é a casa 11.

Nem sempre a afetação da Lua pelos maléficos mencionados leva ao suicídio obviamente. Coloquei os casos acima por estarem disponíveis para o estudo. Casos de mentes obsessivas possuem seus diversos graus. Tristeza, melancolia, depressão, medos absurdos como fobias, inseguranças, vícios dos mais leves como o cigarro aos mais pesados como o álcool e entorpecentes diversos, paixões, compulsões etc., tudo pode ser observado através do estudo da Lua e sua associação com maléficos. A base é a Lua, mas o estudo abrange a Carta inteiramente.


Vênus debilitada e combusta

Hoje respondi a uma pergunta sobre se Vênus na 12ª nega felicidade no amor ou talentos artísticos. Disse que não. Vênus na casa 12 concede felicidade conjugal, prazeres na cama e, em relação aos homens, dá uma esposa submissa e/ou doméstica e para as mulheres faz as tímidas, caseiras e submissas ao esposo. Em ambos os casos leva a se relacionar com pessoas de outros Estados e até mesmo de outros Países, sempre de locais distantes. É evidente que temos de pensar que essa declaração não está observando o dispositor de Vênus, tanto para o Signo quanto para o Nakṣatra, os aspectos que Vênus e seu dispositor recebem de outros planetas, yutis e demais influências circundantes, bem como a Carta Navāṃśa que trata do casamento. Marte na casa 12, ao contrário de Vênus lá, é que nega a felicidade no amor, pois forma um Kuja Doṣa.

O que frequentemente “estraga” uma Vênus e faz com que o homem se sinta deslocado, com dificuldade de se relacionar com mulheres, é seu estado combusto. A combustão gera medo, medo de tomar iniciativa, medo de se envolver, medo de se entregar ao amor. A debilidade causa semelhantes problemas. O envolvimento de Vênus com maléficos leva a amores por interesse. Marte é o pior para causar paixões avassaladoras e, quando em yuti com Vênus em qualquer estado, gera obsessão amorosa, passionalidade, que pode fazer com que a pessoa use as ferramentas que estiverem disponíveis para assediar sua vítima, cercar, perseguir, envolvendo-a em uma trama que levará a ambos ao precipício. Crimes passionais se devem a esta associação. Caso isso se forme na carta Rāśi, a pessoa se torna uma passional; caso na Carta Navāṃśa, ela atrai um conjugue passional. Eis aqui a diferença.

Vênus na casa 12 também não nega habilidades artísticas, pois estas frequentemente são apontadas pela associação desse planeta, igualmente seu dispositor etc., como descrito acima, com outros planetas que significam o campo das artes. Vênus associada com Mercúrio, Sol, Júpiter, Lua e/ou em seus signos, confere grandes habilidades artísticas em campos específicos aos significadores desses planetas, evidentemente.


Portanto, Vênus é sempre benéfica (por natureza), e a menos que governe casas assassinas e/ou esteja combusta ou em debilidade, ou associada e recebendo influências de maléficos ou dos filhos desses maléficos, então ela não pode jamais causar mal a ninguém, ao contrário, por princípio ela é a grande doadora de prosperidade material, de desfrute (Bhoga), concedendo tudo o que for necessário para que a natividade tenha uma vida relativamente confortável nesse mundo.

Sobre Śukra Deva

Śukra, conhecido como o planeta Vênus, é filho de Bhṛgu, e passou a ser conhecido por Guru dos Asuras. O sábio Bhṛgu, um astrólogo, ensinou a seu filho todas as ciências espirituais e todas as escrituras. Śukra era inimigo de Bṛhaspati, o Guru dos Devas, e ele se tornou preceptor dos Asuras para protegê-los dos Devas.

Combustão e Debilidade

A combustão indica sempre uma punição, onde o Sol, significador da Alma do Kālapuruṣa, torna-se o punidor através de Agni, o grande elemento purificador de tudo. Os planetas significam pessoas e, assim, mostram as pessoas que foram afetadas pela má conduta da natividade em vidas passadas. Um planeta combusto está raivoso porque tem sua energia tomada pelo Sol e não pode, nesta vida, tornar a causar o mesmo mal que causou em anterior vida à pessoa específica. A punição vem em forma dolorosa, a natividade encontra dor e sofrimento a partir dos significadores daquele planeta. Vênus combusta frequentemente nega a felicidade no amor, enquanto que sua debilidade causa fraqueza no que ela governa sobre o corpo humano, ou seja, os hormônios procriadores e força para gerar outro ser vivente.

A combustão mostra um estado raivoso do planeta. Em que isso se aplica na vida da natividade? Significa dizer que pessoas associadas com aquele planeta combusto estão sempre a ensinar uma lição para a natividade. Se por um lado isso pode ser amenizado pela colocação do planeta em signos sattvicos, por outro pode ser agravado pela colocação em signos rajasicos ou tamasicos. Há sempre presente um conflito aqui. A harmonia é negada. Para homens há uma dificuldade no tato com mulheres, gera agressividade, desejo de domínio ou o outro extremo de repulsa/medo de se relacionar. Tanto pior se Marte aspectar o conjunto ou se Vênus estiver colocado em signo governado por Marte, pois o quadro se agrava gerando dificuldade para controlar o impulso sexual e levando a crimes passionais. Dificuldade para se fixar com uma só pessoa, tendência ao homossexualismo, experiências sexuais incomuns e promiscuidade são algumas das possibilidades de acordo com a colocação de demais planetas que geram associação com o sexo oposto ou com pessoas do mesmo sexo.

A debilidade mostra uma fraqueza orgânica em relação aos hormônios que controlam os órgãos de procriação. Dificuldade para gerar filhos, tanto para homens quanto para mulheres é a pior situação que se pode encontrar em uma Vênus debilitada.

Esses são os resultados mais frequentes que tenho encontrado em minhas análises.



Nandā-Vrata



Hoje é Kṛṣṇa Aṣṭamī de Aśvayuja Mase, ou Āśvina, o 7º mês lunar que ocorre entre Setembro/Outubro e que marca, de acordo com o Kālikāpurāṇa, o início da penitência espiritual que Satī Devī fez para conseguir se casar com Śiva. Apesar de ser dito por alguns escolares, e até mesmo em nota de rodapé no próprio texto, que essa penitência deve ser realizada na 1ª, 6ª e 11ª quinzenas da Lua, as quais recebem o nome especial de nandā-tithis, uma clara associação à Deusa Durgā também chamada Nandā, Satī a realiza nas seguintes Tithis, conforme o texto abaixo diretamente retirado do Kālikāpurāṇa, Cp. 9-10. A definição para as nandā-tithis pode até ser esta, entretanto, as tithis que agradam Devī e Śiva são as especificadas no texto. No Calendário Lunar deste mesmo Blog, mantenho a lista da adoração das divindades e das tithis que lhes são específicas, as quais estão de acordo com o texto abaixo. 

9:1-16 – Satī, portanto, cruzando sua infância, alcançou a juventude formosa, seu corpo era belo em aparência, com todos os membros carregados de beleza. Dakṣa, observando Satī alcançar o desabrochar da juventude, ponderou sobre como ele iria casar sua filha com Bharga. Satī, por sua vez, com o objetivo de ter Mahādeva por marido, sob a instrução de sua mãe, começou a adorá-lO (Mahādeva) todos os dias em casa. No oitavo dia da quinzena escura da Lua chamada Nandakā (Kṛṣṇa Aṣṭamī), no mês de Āśvina (Setembro-Outubro), ela adorou Maheśvara com os oferecimentos de arroz cozido com melaço e sal, assim ela passou o dia. No décimo quarto dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Caturdaśī) no mês de Kārttika (Outubro-Novembro), ela adorou Hara com bolo de arroz e arroz cozido no leite, assim ela lembrou Hara. No oitavo dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Aṣṭamī) da Lua no mês de Agrahāyaṇa (Novembro-Dezembro), ou Mārgaśīrṣa, ela adorou Hara com arroz fervido misturado com gergelim, grãos de cevada e papa de aveia, e figos (nīla); assim ela passou o dia. Na noite do sétimo dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Saptāmi) da Lua no mês de Pauṣa (Dezembro-Janeiro), Satī adorou Śiva com oferecimentos de mudga (phaseolus mangos). Na noite de Lua Cheia (Pūrṇimā) no mês de Māgha (Janeiro-Fevereiro) Satī passou a noite acordada a adorou Hara, com roupas molhadas, na beira de um rio. Ela, tendo prestado toda sua atenção a Hara, viveu em um dieta restrita pelo mês inteiro, o qual consistia de diferentes flores e frutos que cresciam na estação. No décimo quarto dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Caturdaśī) da Lua no mês de Phālguṇa (Fevereiro-Março), ela passou a noite sem dormir e adorou Hara com folhas de Bilva. No décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua no mês de Caitra (Março-Abril), ela adorou Śiva, dia e noite, com flores de Palāśa (a árvore Butea Frondosa); assim passou aquele dia. No terceiro dia da quinzena brilhante (Śukla Tritīya) da Lua no mês de Vaiśākha (Abril-Maio), ela adorou Hara com arroz cozido com cevada, e pelo mês inteiro ofereceu a Ele oblação de ghee; passou o tempo pensando nEle e sem tomar alimento (jejum). Na noite de Lua Cheia (Pūrṇimā) do mês de Jyeṣṭha (Maio-Junho), ela adorou Śiva com os oferecimentos de roupas e de flores Vṛhatī; assim ela passou aquela noite. No décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua no mês de Āṣāḍha (Junho-Julho), ela adorou Hara com flores Vṛhatī. No oitavo dia (Śukla Aṣṭamī) e no décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua do mês de Śrāvaṇa (Julho-Agosto), ela adorou Śiva com oferecimentos do sagrado cordão (yajñopavīta), roupas e grama kuśa. No décimo terceiro dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Trayodaśī) da Lua no mês de Bhādra (Agosto-Setembro), ela ofereceu uma variedade de flores e frutos para Śiva e O adorou novamente no décimo quarto dia (do mesmo mês) (Kṛṣṇa Caturdaśī), e então ela tomou água (jejum de alimento sólido).
10:1-2 – Então Satī, novamente, no décimo dia da quinzena clara (Śukla Daśamī) do mês de Āśvina (Setembro-Outubro), adorou Mahādeva, o Senhor dos Deuses, observando jejum, com devoção. Assim que Satī completou o Jejum de Nandāvrata, Mahādeva apareceu, em pessoa, em sua frente, no nono dia da quinzena brilhante da Lua (Śukla Navamī).

A penitência tem duração de um ano e é assim descrita neste Purāṇa. As tithis são estas, que seguem abaixo, enumeradamente.


Interessante notar nessa história que Śiva vai para Śakti, contrário ao fato de que a Śakti sempre vai em direção a Śiva (no Sahasrāra). Uma observação minha, digna de nota nesse trabalho que realizo na tradução e explicação dos Śāstras, de que Śiva também se move em direção à Śakti, ou seja, Ele (em determinado momento) é tão dinâmico quanto sua contraparte Śakti-poder.

(1) Kṛṣṇa Aṣṭamī de Āśvina;  (2) Kṛṣṇa Caturdaśī de Kārttika;  (3) Kṛṣṇa Aṣṭamī de Agrahāyaṇa (ou Mārgaśīrṣa); (4) Kṛṣṇa Saptāmi de Pauṣa;  (5) Pūrṇimā de Māgha; (6) Kṛṣṇa Caturdaśī de Phālguṇa; (7) Śukla Caturdaśī de Caitra; (8) Śukla Tritīya de Vaiśākha; (9) Pūrṇimā de Jyeṣṭha; (10) Śukla Caturdaśī de Āṣāḍha; (11) Śukla Aṣṭamī de Śrāvaṇa; e Śukla Caturdaśī de Śrāvaṇa; (12) Kṛṣṇa Trayodaśī de Bhādrapada;  e Kṛṣṇa Caturdaśī de Bhādrapada; (13) Śukla Daśamī de Āśvina do ano seguinte, encerrando a penitência.

Candrāyaṇa Vrata

Não há realização de yogas se maldições não forem removidas do mapa. Como já dito por mim em diversas outras postagens, a remoção de maldições se dá por diversos meios, quer penitências espirituais, banhos em rios sagrados, peregrinações a locais sagrados etc.

Vejamos que quando uma pessoa remove uma maldição de seu mapa, isto é semelhante à remoção do estado de debilidade de um planeta. Por exemplo, quem tem Júpiter debilitado no mapa deveria ir, em peregrinação, à Tārā Pīṭha, pois planetas debilitados representam as Das Mahāvidyās. Quando isso ocorre, a debilidade do planeta é removida e a vida da pessoa dá uma guinada de 180º positivo. Uma completa transformação ocorre, pois os yogas relacionados ao planeta podem então frutificar, trazendo todos os assuntos auspiciosos. Isto é, se forem Raja Yogas, trazem prosperidade na vida, elevado status, mudanças favoráveis etc.

Frequentemente tenho observado que planetas depositados em certas casas, cujos signos naturais governantes sobre aquela representam o sinal de debilidade do planeta, ainda que o tal planeta não esteja debilitado, sentem-se atraídos pela Mahāvidyā correspondente a aquele planeta. A adoração dessa divindade produz toda proteção na vida.

Como não há frutificação de yoga sem remoção de maldição, hoje complemento a postagem sobre Guru no dia do Guru Pūrṇima, o qual abordei por alto sobre o Candrāyaṇa Vrata para a remoção de maldição de Júpiter no mapa. Essa maldição, por envolver Júpiter, traz problemas em tudo na vida. Se Sol é a alma do Kālapuruṣa, Júpiter (como bem ensina Bhṛgu) é como Jīva encarnado, e qualquer aflição sobre Júpiter no mapa afeta a experiência de Jīva no mundo.  



Candrāyaṇa Vrata (*) é um jejum que tem a duração de um mês, começa no Amavasya (jejum inteiro). Em seguida, no primeiro dia da quinzena clara (Shukla Pratipat), um pouco de comida pode ser ingerida à noite (o jejum prossegue). No segundo dia essa quantidade de alimento é aumentada e assim sucessivamente até o 14º dia desta quinzena em Shukla Chaturdashi. O Jejum prossegue, entra em Pūrṇimāsya e no dia seguinte, em Kṛṣṇa Pratipat, o mesmo procedimento é feito, ou seja, uma porção de alimento à noite, mas aqui diminuindo essa porção a cada dia lunar quando então, no Amāvāsya (novamente total jejum) e no dia seguinte o jejum é quebrado.

Está escrito no Śiva Purāṇa sobre esse jejum –

Oh Sábios! No 13º dia da metade escura do mês, somente uma refeição será tomada (pelo penitente). Mas no décimo quarto, completo jejum deve ser observado. O décimo quarto da metade escura é certo trazer propiciação do Senhor Śiva ”.

Esse Jejum (Vrata) remove as maldições dadas por Júpiter no Mapa.

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(*) Texto Corrigido sobre a sequência das Tithīs. Segue ilustração sobre as fases lunares.

Guru Pournima

Guru Pournima é momento de exaltar os Mestres que nos orientaram durante a vida. A 9ª Casa fala sobre o Guru, Diksha e o ingresso em uma ordem sagrada, cujo significador é Júpiter. Fala sobre a Fortuna e a Religião, tendo como significador para isto Sol. Fala sobre espiritualidade, cujo significador é Ketu. Esta casa é chamada de Vishnu Sthana ou Dharma Bhava.

Algumas Argalas sobre a 9ª casa –

1.      Benéficos na 12ª casa têm shubhargala sobre a 9ª casa e eles sempre intervêm em questões religiosas como conduzir o nativo para o seu Guru, por exemplo. Maléficos ali causam papargala e causam ferimento sobre os assuntos da 9ª casa.
2.      Benéficos no Lagna também têm shubhargala sobre a 9ª casa e daí os ensinamentos e as bençãos da 9ª casa são absorvidas. Ao contrário, quando maléficos ou planetas debilitados se encontram no Lagna, eles negam bençãos dos assuntos referentes a esta casa.






Planetas Benéficos e Semi-benéficos na 9ª casa –

1. Sol e/ou Júpiter na 9ª casa é uma benção em qualquer Carta, pois são significadores do Dharma e providenciam as maiores bençãos para o nativo.
2. Mercúrio confere princípios de honestidade, boas ações e demais felicidade, a menos que afligido por outros maléficos.
3. Lua dá muitas viagens para o estrangeiro e possível residência lá.

Planetas que causam ferimento no Dharma –

1. Rahu e Saturno são os que mais afetam Sol e Júpiter, destruindo a realização do Dharma, quer estando em yuti ou aspectando. 
2. Se Rahu está na 9ª casa, o nativo é dado à mentira e à intriga. 
3. Se Saturno está na 9ª casa, isso traz infortúnio para o Guru ou o pai. 
4. Em ambos os casos, Saturno ou Rahu aspectando ou ocupando a casa 9 é indicativo de sofrimento e ferimento no Dharma. Frequente encontrar essas posições em quem não tem sorte com Gurus, ou que são eles próprios inclinados à enganação ou, ainda, são frequentemente enganados por falsos Gurus. 
5. Entretanto, Saturno em dignidade nesta casa dá uma atitude de renúncia, enquanto Rahu faz uma pessoa que vai aos extremos para a realização de seus desejos. 
6. Marte ocupando ou aspectando a 9ª casa é outro ferimento no Dharma que traz brutalidade e orgulho. O nativo neste caso estaria inclinado à adoração de Rudra. 
7. Em todos estes casos, pedras veeparitas de tais planetas são indicadas para a remoção da influência desses maléficos. Como nem todos podem usar tais pedras pela colocação dos planetas em suas Cartas Natais, o mais correto é se consultar com um Astrólogo Védico de modo que seja analisada qual a melhor medida corretiva.
8. Ketu dá experiências espirituais ou má companhia que afasta da realização do Dharma. 
9. Contudo, estes planetas na 9ª do AL têm o efeito contrário, dão proteção e realizações materiais ao invés de conduzir para más ações.
10. A colocação do AK nesta casa também não é bom para o Dharma, pois faz a natividade se comportar como se fosse seu próprio Guru.

Colocação do Senhor da 9ª casa

O Senhor da 9ª é a Divindade na Carta, de modo que se ele está bem colocado, exaltado, em dignidade e bem aspectado, a Divindade sempre lhe será favorável e o nativo será conduzido à realização do Dharma facilmente em sua vida. Caso contrário, a ira da Divindade pode leva-lo a ser enganado ou ser ele próprio um enganador, enredando suas vítimas em práticas enganosas. Isso vai depender de suas associações e aspectos recebidos. Quanto mais prejudicado este planeta, tanto pior.

Curse de Brahmanes (Júpiter)

Júpiter indica Brahmanes e Sacerdotes. As aflições de Júpiter por Saturno e Marte, ou por Rahu, indica a curse obtida no último nascimento. As casas governadas por Saturno mostram a área do problema. Júpiter em yuti ou recebendo uma drshthi de Saturno, Marte ou de Rahu indicam a curse frequentemente em uma carta. Esta Curse impede o encontro do Guru e, consequentemente, o recebimento de Diksha e o ingresso em uma Ordem Sagrada. Havendo colocações planetárias anteriormente citadas, pode dar o encontro com falsos Gurus e sofrimento a partir daí.


O remédio é Chandrayana Vrata (jejum o mês inteiro e adoração do Senhor Shiva). Este é o remédio mais eficaz. Pelo aconselhamento, percebe-se que Shiva é o doador de Guru nesta vida. Nenhuma outra divindade, a menos que analisada a Carta previamente para descobrir qual é o planeta que governa sobre o Guru Devata, o doador de conhecimento neste mundo, de modo a adorar a Divindade associada a este planeta para remover os obstáculos que impedem o nativo de encontrar o Guru. Em TODOS os casos, e de um modo geral, é o Senhor Shiva quem remove a curse de Brahmane no mapa e protege o nativo de todos os enganos neste caminho. Sendo assim, quem desejar obter as bençãos de Shiva para encontrar o Guru que irá lhe guiar pela maya desse mundo ilusório até a realização de Moksha, deve adorar Shiva, ou fazer Seva, ou penitências espirituais, ou Chandrayana Vrata (jejum seguido de adoração). Quem buscar refúgio em Shiva não pode ser iludido neste mundo, de modo que Ele afasta os enganos e todos os perigos e conduz o devoto à realização do mais perfeito Dharma nesta vida com a personificação do verdadeiro Guru. Muito já exaltei em meu trabalho sobre a proteção que o Senhor Shiva concede ao devoto que toma abrigo aos Seus pés. Ele assim o faz porque é o grande defensor do Dharma, então, ele protege o devoto de falsos Gurus e o conduz para o caminho da retidão, para a realização de seus deveres. 


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Fontes de Consulta:

Crux Of Vedic Astrology - Timing of Events, Pt. Sanjay Rath
Vedic Remedies in Astrology, Pt. Sanjay Rath




Trânsitos de Rāhu-Ketu por Virgem-Peixes em 12/07/2014

A partir de 12 de Julho de 2014, Rāhu e Ketu mudam de signo. Rāhu ingressará em Virgem e Ketu em Peixes. De um modo geral, Virgem sendo a 6ª casa do Zodíaco Natural, representa, por si só, nossas fraquezas, uma vez que esta é a casa que significa não só os inimigos declarados, mas sobretudo os inimigos internos que cedo ou tarde teremos de enfrentar na busca do autoconhecimento. É o natural significador de inimigos, serviço ruim, cortes e ferimentos. Se por um lado Rāhu representa esses problemas na vida ao transitar pelo signo que governa a casa 6 do Zodíaco Natural, por outro, sendo este o signo de Virgem, o qual possui boas qualidades mentais, inclinação para os estudos, e sendo Rāhu kāraka de engano, confusão e ilusão, espera-se que essa posição afete as áreas do ensino e também da comunicação entre os próximos.

Ketu, por sua vez, representa não só a elevada espiritualidade, como veremos mais abaixo, mas também términos bruscos, isto é, o fim no sentido de um evento material em curso. Sua colocação em Peixes é boa para a espiritualidade em geral, pois sua posição neste signo favorece as áreas onde Ketu é significador principal.

Abaixo um texto cujo objetivo é auxiliar o astrólogo na interpretação dos eventos que decorrem desse trânsito.

Rāhu e os laços que nos atam a este mundo

Em termos de análise de uma carta, o Nodo Norte, Rāhu, representa alguém nascido em casta inferior, que faz intriga com garotas, indicando a mentira, o engano, o embuste, isto é, alguém cujos pensamentos e ações sempre serão maus e enganadores. Sua posição no mapa, em signo, casa, conjunção com planetas, āruḍhas e outros pontos, indicam o tipo de pessoa que atraímos para a nossa vida e também fala, obviamente, sobre o caráter do próprio indivíduo quando, de alguma forma, está colocado no mapa de tal modo que possibilite semelhantes associações.

Em certo nível de interpretação, Rāhu age como Saturno e Ketu age como Marte, dois grandes maléficos, o primeiro apontando para nossas obsessões e o segundo para nossas paixões, ambos planetas que nos atam ao mundo através das nossas fraquezas de caráter.

Rāhu em semelhança a Saturno, governa sobre as tentações e as coisas materiais. Ele nunca está satisfeito com o que consegue e sempre quer mais, assim como Saturno. Para isso ele usa o engano, a lábia, a astúcia, o fim justificando os meios para a satisfação de seus desejos sempre insaciáveis. Onde Rāhu está colocado em uma casa, ali indica uma ação de enganação. Mas não só isso, ele também confere ganhos e realizações materiais e, portanto, seu trânsito por uma casa, signo e planeta Natal, apontará tanto realizações dos desejos quanto a colheita das ações que nos fizeram tomar um novo nascimento, bem como as ilusões e os enganos, isto é, os perigos que nos aguardam.

Rāhu em seu trânsito

O trânsito de Rāhu dá a satisfação dos desejos, mas junto com algum sofrimento, conforme ele toca determinados planetas e āruḍhas Natais. Por exemplo, se Rāhu toca Júpiter, isso sempre fala a respeito da família; Lua, sobre a residência; Sol, sobre a popularidade, fama e status na profissão; Marte, sobre acidentes e os irmãos; Saturno, fala a respeito da saúde, da profissão e o próprio sustento, com mudanças nessa área da vida; Vênus, assuntos relacionados ao amor, crianças e ganhos em divertimentos; Mercúrio, vizinhos, parentes próximos, estudos e instituições de ensino. Conforme ele representa nossas curses e ações Karmicas de vidas passadas que nos fazem tomar um novo nascimento, seu trânsito igualmente representará a área da vida em que os frutos desse Karma passado frutificarão. Por isso seu trânsito tanto concede a realização dos desejos, pelo que foi dito anteriormente, quanto frutos de um mau Karma a serem colhidos.  A casa que Rāhu toca em seu trânsito também indicará experiências a nível Kármico e realização de desejos naquele assunto. Esse trânsito sobre planetas, āruḍhas e casas traz frequentes confusões naquela área da vida e pessoas relacionadas. O que dizer então quando ele toca o Lagna e deixa a pessoa sem senso de direção na vida? E quando ele toca o A7 e traz relacionamentos perturbadores, enganadores, em seus diversos níveis de experiência?

Ciclos de Rāhu

Os Nodos levam em torno de 18 meses em cada signo e levam aproximados 18 anos para completar uma volta no zodíaco. Então, a cada 18 anos o indivíduo encontra experiência semelhante na colheita de um Karma específico apontado pela colocação de Rāhu tanto no signo quanto na casa em que ele está colocado ao nascimento. A experiência, embora semelhante em termos de resgate, acontece em um novo palco, com novas pessoas, mas com o caráter delas idêntico ao experimentado no passado. Enquanto Rāhu não for trabalhado no mapa, ele tende a dar frutos do que nos trouxe a este mundo através de experiências dolorosas, mostrando sempre o ponto a ser trabalhado para nos libertarmos desses laços. As Curses apontadas por Rāhu são mostradas não somente em relação aos planetas o qual ele se encontra em yuti na Carta Natal, mas também nos signos, observando neste último caso o governante do signo. Assim, Rāhu com Sūrya indica alguma dívida para com a figura paterna; com a Lua, para com a mãe; com Marte, para com irmãos; com Mercúrio, para com parentes próximos e tios; com Júpiter, para com professores, gurus e pessoas religiosas; com Vênus, para com as mulheres e dinheiro; com Saturno, para com pessoas pobres e dívidas que foram contraídas pela não realização da última cerimonia dos antepassados. Algumas regras são estabelecidas para verificar a força desse débito, tanto para a colocação desse Nodo junto aos planetas natais quanto em signos. Enquanto a experiência obtida se deve aos frutos que estão sendo colhidos, as pessoas que farão parte desse resgate podem ser identificadas pelos significadores temporários ao qual o senhor do signo em que Rāhu toca em seu trânsito representa, bem como sua yuti com algum planeta. Não há como se perder nesta análise se tais cuidados forem tomados.

Ketu e seus significadores

Ketu representa a contraparte espiritual que nos leva em direção ao último objetivo de vida, ou seja, Mokṣa. Por representar o fim da existência material, sua posição em uma Carta junto de planetas etc., causa inúmeras aflições na vida e impede a concretização de vários objetivos materiais. Ele representa a morte, a vida após a morte, meios de alcançar a morte, ele representa a espiritualidade, a iluminação, também é kāraka de astrologia, peregrinações a lugares sagrados, experiências místicas e espirituais, o despertar de Kuṇḍalinī etc., representa pessoas da casta mais inferior, espíritos maléficos, a morte não natural, venenos, eletricidade, produtos químicos, serpentes etc. São muitos os significadores para Ketu.

Trânsitos de Ketu

Quando Ketu toca uma casa em seu trânsito, ele vai mexer na estrutura daquela casa, provocar transformações, finalizar um assunto pendente. Assim como Rāhu, o governante do signo e sua associação com outros planetas, estes analisado como significadores naturais, devem ser observados para identificar as pessoas envolvidas no processo de finalização, os problemas etc.

Como ele nega assuntos materiais, quando ele toca, em seu trânsito, outros planetas, ele acaba por negar aquele assunto, finalizando-o. Assim, do mesmo modo que Rāhu indica realizações materiais, como visto anteriormente, Ketu indica a restrição dessa realização, a negação e o fim de uma determinada situação ou evento que já vinha ocorrendo no mundo material.


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Fontes de Consulta:

1. Crux of Vedic Astrology – Timing of Events, Pt. Sanjay Rath;
2. Rahu & Ketu – Bhrigu Astrology, Dr. N. Srinivasan Shastry




Capítulo 4 – A Salvação de Cañculā

I – A Grandeza (Glória) do Śivapurāṇa




Capítulo 4 – A Salvação de Cañculā



O Brāhmaṇa disse –

I:4:1-2 – Oh Senhora Brāhmaṇa, afortunadamente você compreendeu a tempo ouvindo a estória do Śivapurāṇa que conduz ao não apego. Não tenha medo. Busque refúgio em Śiva. Todos os pecados perecem instantaneamente sob a graça de Śiva.
I:4:3 – Explicarei a você aquela grande finalidade associada à glorificação de Śiva por meio do qual seu rumo de hoje em diante será sempre agradável.
I:4:4 – É por ouvir esta excelente estória que sua mente agora voltou para o caminho puro do arrependimento e desapego para com os prazeres mundanos.
I:4:5 – O arrependimento é somente uma forma de quitação para todos os pecadores. Os homens santificados enaltecem-no como a única forma de expiação para todos os pecados.
I:4:6 – A pureza pode ser compreendida somente pelo arrependimento. Se o pecador expia da forma aconselhada pelos homens santos, ele remove todos os pecados.
I:4:7 – Após a devida expiação ele se torna livre de medo. Pelo arrependimento ele alcança a salvação sem dúvida alguma.
I:4:8 – A pureza mental que se obtém ao ouvir a estória do Śivapurāṇa não pode ser obtida por qualquer outro meio.
I:4:9 – Como um espelho se torna livre da sujeira ao ser limpo com um tecido, assim sem dúvida a mente se torna purificada por ouvir esta estória.
I:4:10 – Acompanhado por Ambā, Śiva permanece na mente dos homens puros. A alma santificada a partir de então, alcança a região de Śiva e de Ambā.
I:4:11 – Por isso essa estória é o meio de compreender os quatro objetivos da vida (Dharma, Artha, Kāma e Mokṣa). É por isso que Mahādeva diligentemente criou isto.
I:4:12 – Ouvir a estória do consorte de Pārvatī (Śiva), traz contemplação constante. A contemplação leva ao perfeito conhecimento, o qual certamente traz a salvação.
I:4:13 – Uma pessoa que ouve a estória neste nascimento, embora ela seja incapaz de meditar, compreende o mesmo no nascimento seguinte, pelo qual ele alcança o objetivo de Śiva.
I:4:14 – Muitos pecadores arrependidos meditaram em Śiva depois ouvir esta estória e obtiveram a salvação.
I:4:15 – Ouvir essa excelente estória é a causa da beatitude de todos os homens. Devidamente entretido, ela dispersa o padecimento dos laços mundanos.
I:4:16 – Ouvir a estória de Śiva, meditar constantemente Nele e as reflexões repetidas, certamente purifica a mente.
I:4:17 – Aquela (a pureza da mente) leva o meditador à devoção de Maheśa e seus dois filhos (Gaṇeśa e Kārtikeya). Com suas bençãos, sem dúvida a pessoa alcança a Liberação.
I:4:18 – Uma pessoa desprovida daquela devoção com sua mente enredada nos laços da ignorância é um bruto. Ele nunca pode ser liberado dos laços mundanos.
I:4:19 – A partir daí, Oh senhora Brāhmaṇa, você se afasta dos prazeres mundanos. Ouça a estória santificada de Śiva com devoção.
I:4:20 – Sua mente, conforme você for ouvindo a excelente estória de Śiva, a Suprema Alma, irá se tornando pura e, por conseguinte, você perceberá a Liberação.
I:4:21 – A Liberação é assegurada neste mesmo nascimento a uma pessoa que medita aos pés de lótus de Śiva, com uma mente pura. Verdade, eu estou dizendo a Verdade.

Sūta disse –

I:4:22 – Depois de dizer isso, aquele excelente Brāhmaṇa, com sua mente comovida em piedade, parou de falar e voltou sua atenção para a meditação em Śiva, com a pureza de sua Alma.
I:4:23 – A esposa de Binduga, chamada Cañculā, quando assim endereçada pelo Brāhmaṇa, tornou-se agradada e seus olhos encheram de lágrimas.
I:4:24 – Com grande alegria em seu coração ela caiu aos pés do Brāhmaṇa. Cañculā, com suas mãos postas, disse: “Eu sou abençoada”.

... Continua ...

Capítulo 3 – A Desilusão e o Desapego de Cañculā

I – A Grandeza (Glória) do Śivapurāṇa




Capítulo 3 – A Desilusão e o Desapego de Cañculā



Śaunaka disse –



I:3:1 – Oh Sūta de grande intelecto, você é extremamente abençoado e onisciente. Por sua graça eu estou contente e saciado repetidas vezes.
I:3:2 – Minha mente se alegra muito ao ouvir esta antiga anedota. Por favor, narre outra estória que igualmente aumenta a devoção a Śiva.
I:3:3 – Em nenhum outro lugar do mundo estão aqueles que bebem o néctar homenageado com a liberação. Mas em relação ao néctar da estória de Śiva é diferente. Quando bebido, ele imediatamente confere a salvação.
I:3:4 – Você é abençoado, abençoado de fato. Abençoado, abençoado é a estória de Śiva ouvida pelo qual um homem alcança o Śivaloka.

Sūta disse –

I:3:5 – Oh Śaunaka, por favor, ouça o que eu tenho a lhe dizer, embora um grande segredo, uma vez que você é o primeiro dentre os escolares Védicos e um importante devoto de Śiva.
I:3:6 – Existe uma vila a beira-mar chamada “Bāṣkala”16 onde pessoas pecaminosas, desprovidas de virtudes Védicas, residem.
I:3:7 – Elas são perversas e libertinas com um enganoso meio de vida, ateístas, agricultores que portam armas e adúlteros trapaceiros.
I:3:8 – Elas não sabem nada sobre o verdadeiro conhecimento, desapego ou a verdadeira virtude. Elas são brutais em suas constituições mentais, e têm um grande interesse em ouvir fofocas e calúnias pecaminosas.
I:3:9 – Pessoas de diferentes castas são igualmente trapaceiras, nunca se dedicando aos seus deveres. Sempre atraídos para os prazeres mundanos, eles estão sempre mergulhados em ações maléficas ou outras.
I:3:10 – Todas as mulheres são igualmente desonestas, mundanas e pecaminosas. De má conduta, de baixa moral, elas são desprovidas de bom comportamento e de uma vida disciplinada.
I:3:11 – Na vila Bāṣkala, no povoado de pessoas malévolas, existia um Brāhmaṇa inferior chamado Binduga.
I:3:12 – Ele era um pecador perverso que trilhava caminhos miseráveis. Embora ele tivesse uma bela esposa, ele vivia enamorado de uma prostituta. Sua paixão por ela perturbava completamente a sua mente.
I:3:13 – Ele abandonou sua devotada esposa Cañculā e se entregou em frivolidades sexuais com a prostituta, completamente dominado pelas flechas do Cupido.
I:3:14 – Muitos anos assim decorreram sem que ele se afastasse de suas ações maléficas. Com medo de transgredir sua castidade, Cañculā, embora ferida pelo Cupido, cansou-se de seu pesar (calmamente por um curto tempo)
I:3:15 – Mas depois, quando sua saúde vigorosa e a sua energia tempestuosa cresceram, a investida do Cupido se voltou extremamente insustentável para ela e a fez deixar de cumprir rigorosamente a sua conduta virtuosa.
I:3:16 – Ignorada por seu marido, ela começou a ter relações sexuais com seu amante à noite. Caída de suas virtudes Sattvicas, ela declinou para o caminho do mal.
I:3:17 – Oh sábio, uma vez ele viu sua esposa amorosamente em união sexual com o amante dela à noite.
I:3:18 – Vendo sua esposa assim, contaminada pelo amante à noite, ele avançou contra eles, furiosamente.
I:3:19 – Quando o amante enganador e malandro soube que o perverso Binduga tinha retornado para casa, ele fugiu do local imediatamente.
I:3:20 – O perverso Binduga segurou sua esposa e com ameaças bateu nela repetidas vezes.
I:3:21 – A mulher perversa e indecente, Cañculā, assim espancada por seu marido, tornou-se enfurecida e falou para seu perverso marido.

Cañculā disse –

I:3:22 – Você é um espírito imundo, pois se entrega em atos sexuais com uma prostituta todos os dias. Você me descartou como sua esposa, mesmo pronta para te servir com meu corpo jovem.
I:3:23 – Eu sou uma jovem dotada com beleza e com a mente agitada por desejo. Diga-me, que outro caminho eu posso tomar quando meu marido me nega amor?
I:3:24 – Eu sou muito bela e agitada com o rubor fresco da juventude. Privada de sexo com você, eu vivo extremamente angustiada. Como posso suportar os tormentos da paixão?

Sūta disse –

I:3:25 – Aquele Brāhmaṇa inferior, quando ouviu isto de sua esposa, insensato e avesso aos seus próprios deveres, disse a ela.

Binduga disse –

I:3:26 – De fato é verdade o que você disse com a sua mente agitada pela paixão. Por favor, ouça-me, querida esposa, irei dizer-lhe algo que será para o seu benefício. Você não precisa ter medo.
I:3:27 – Vá em frente com seu passatempo sexual com qualquer número de amantes. Nenhum medo deve entrar em sua mente. Extraia tanta riqueza quanto puder deles e dê a eles suficiente prazer sexual.
I:3:28 – Deve entregar toda a quantia para mim. Você sabe que eu sou apaixonado por minha concubina. Assim, nossos mútuos interesses estarão assegurados.

Sūta disse –

I:3:29 – Sua esposa Cañculā, ouvindo as palavras de seu marido, ficou extremamente agradada e consentiu em realizar este vicioso propósito.
I:3:30 – Assim, estando ambos em acordo em relação a este abominável contrato, estas duas pessoas – o marido e a esposa – destemidamente seguiram adiante em maléficas ações.
I:3:31 – Muito tempo foi desperdiçado assim pelo tolo casal que se satisfazia em atividades viciosas.
I:3:32 – O perverso Binduga, o Brāhmaṇa com uma mulher Śūdra por sua concubina, morreu depois de alguns anos e foi para o Inferno.
I:3:33 – O sujeito tolo suportou angustia e tortura no Inferno por muitos dias. Em seguida, ele se tornou um fantasma na montanha Vindhya, continuando a ser terrivelmente pecaminoso.
I:3:34-35 – Depois da morte de seu marido, o perverso Binduga, a mulher Cañculā permaneceu em sua casa com seus filhos. A tola mulher continuou com seus prazeres amorosos com seus amantes até não possuir mais o charme da sua juventude.
I:3:36 – Devido a intercessão divina, aconteceu que em uma ocasião auspiciosa, ela teve a chance de ir para o Templo Gokarṇa17 na companhia de seus parentes.
I:3:37 – Casualmente, passeando aqui e ali com seus parentes, ela tomou seu banho em uma lago santo, como uma rotina normal.
I:3:38 – Em um certo Templo, um erudito de sabedoria divina, estava conduzindo um discurso sobre a sagrada estória do Śivapurāṇa, um pouco do qual aconteceu dela ouvir.
I:3:39-40 – A parte que chegou aos ouvidos dela era sobre a circunstância de como os serviçais de Yama haviam introduzido um ferro em brasas na vagina de uma mulher que tinha relações com seus amantes. Esta narrativa feita pelo Paurāṇika para aumentar o desprendimento, fez a mulher estremecer de medo.
I:3:41 – No fim do discurso, quando todas as pessoas foram embora, terrificada, a mulher se aproximou do Brāhmaṇa escolar  falou a ele em confidência.

Cañculā disse –

I:3:42 – Oh, nobre senhor, por favor, ouça as atividades desprezíveis que eu realizei sem conhecimento dos meus reais deveres. Oh, senhor, ouvindo o mesmo você irá ter piedade de mim e me levantar.
I:3:43 – Oh, senhor, com uma mente completamente iludida, eu cometi muitos grandes pecados. Cega pelo desejo, gastei toda a minha juventude em prostituição.
I:3:44 – Hoje, ouvido seu discurso instruído abundante em sentimentos de não apego, tornei-me extremamente terrificada e eu me estremeço muito.
I:3:45 – Desgosto meu, a pecadora tola de uma mulher iludida pela luxúria, censurável, apegada aos prazeres mundanos e avessa aos meus próprios deveres.
I:3:46 – Sem saber um grande pecado que produz extrema aflição foi cometido por mim por um vislumbre de um prazer evanescente, uma ação criminal.
I:3:47 – Ai de mim! Eu não sei qual terrível objetivo isto me levará. Minha mente sempre esteve envolta nos caminhos do mal. Que homem sábio virá em meu socorro?
I:3:48 – No momento da morte, como enfrentarei os terríveis mensageiros de Yama? O que sentirei quando eles amarrarem laços em meu pescoço?
I:3:49 – Como suportarei as picadas no Inferno do meu corpo em pedaços? Como suportarei a especial tortura que é excessivamente dolorosa?
I:3:50 –  Eu lamento a minha sorte. Como posso seguir pacificamente com a atividade dos meus órgãos dos sentidos durante o dia? Agitada com a miséria, como obter um sono tranquilo durant a noite?
I:3:51 – Ai de mim! Estou perdida! Estou queimando! Meu coração está despedaçado! Eu estou condenada em todos os aspectos. Eu sou uma pecadora de todas as coisas.
I:3:52 – Oh Destino desfavorável! Você direcionou minha mente ao longo do caminho do mal. Com uma odiosa obstinação você me fez cometer grandes pecados. Eu fui desencaminhada do caminho do meu dever que me concederia toda felicidade.
I:3:53 – Oh Brāhmaṇa, minha dor presente é milhões de vezes maior do que de um homem amarrado à estaca do topo de uma elevada montanha.
I:3:54 – Meu pecado é tão grande que não pode ser de modo algum lavado até mesmo se eu fizer abluções no Gaṅgā por centenas de anos, ou até mesmo se eu realizar centenas de sacrifícios.
I:3:55 – O que eu deveria fazer? Onde devo ir? A quem recorrer? Estou caindo no oceano do Inferno. Quem pode me salvar neste mundo?
I:3:56 – Oh nobre senhor, você é o meu preceptor. Você é minha mãe. Você é meu pai. Eu busco refúgio em você. Eu estou em uma condição deplorável. Levante-me; levante-me.

Sūta disse –

O inteligente Brāhmaṇa misericordiosamente levantou Cañculā que estava desgostosa (com seus assuntos mundanos) e que tinha caído aos seus pés. Aquele Brāhmaṇa, então, falou (como se segue).



Fim do Capítulo 3 – A Desilusão e o Desapego de Cañculā

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16 – Bāṣkala grama – Cf. SK III.iii.32.50. Não foi possível identificar e localizar esta vila.
17 – Gokarṇa – literalmente “orelha da vaca”. É um local de peregrinação sagrado a Śiva, na costa Oeste, próximo a Mangalore. Foi o templo de Mahādeva, supostamente estabelecido por Rāvaṇa.

Capítulo 2 – A Liberação de Devarāja

I – A Grandeza (Glória) do Śivapurāṇa




Capítulo 2 – A Liberação de Devarāja



Śaunaka disse –

I:2: 1 – Oh Sūta, você é o mais abençoado e o mais afortunado conhecedor da grande Verdade. Você narrou a nós, por sua grande compaixão, esta admirável e divina estória.
I:2:2 – Esta maravilhosa narrativa que destrói as hostes de pecados, que purifica a mente e que propicia o Senhor Śiva, foi ouvida por nós.
I:2:3 – Gratos por sua compaixão, temos compreendido que não existe nada, decididamente, tão bom e agradável quanto esta estória.
I:2:4 – Quem dentre aqueles pecadores na Era de Kali que foram santificados por esta estória? Por favor, esclareça-nos. Torne o mundo inteiro grato.

Sūta disse –

I:2:5 – Os homens que habitualmente cometem pecados, pessoas más que se satisfazem em atividades viciosas e pessoas devassas em disposição, tornam-se puros por este meio.
I:2:6 – Este é o grande Jñānayajña; ele assegura o prazer mundano bem como a liberação; ele dispersa todos os pecados e agrada Śiva.
I:2:7 – Os homens esmagados pela sede da cobiça, desprovidos de veracidade, que desacreditam até mesmo seus pais, arrogantes, vaidosos, e pessoas inclinadas às atividades violentas, tornam-se santificadas por isto (a leitura do Śivapurāṇa).
I:2:8 – Aqueles que nunca praticaram os deveres de seus Varṇas e Āśramas (castas e os quatro estágios da vida) e possuem o temperamento maldoso, tornam-se santificados pelo Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:9 – Aqueles que habitualmente praticam o engano e que são de uma disposição implacável e cruel, tornam-se santificados pelo Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:10 – Aqueles que roubam a riqueza dos Brāhmaṇas e assim se alimentam,  aqueles que se satisfazem em crimes hediondos de adultério, tornam-se santificados por este Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:11 – Aqueles que sempre se satisfazem em ações pecaminosas e aquelas que são pessoas tratantes de mente perversa, tornam-se santificados por este Jñānayajña até mesmo na Era de Kali.
I:2:12 – Os homens de hábitos impuros e de mente perversa, homens que não conhecem a paz e homens que escondem os bens que lhes foram confiados, tornam-se santificados por este  Jñānayajña até mesmo na Era de Kali.
I:2:13 – O mérito derivado deste Purāṇa destrói os grandes pecados e assegura os prazeres mundanos e a liberação e agrada ao Senhor Śiva.
I:2:14 –  Neste contexto uma anedota antiga é citada como um exemplo. Por meramente ouvir isto (a anedota), isto remove todos os pecados completamente.

Aqui começa a narrativa da vida de Devarāja

I:2:15 – Na cidade de Kirātas viveu um Brāhmaṇa (casta de sacerdotes) extremamente pobre e deficiente em conhecimento (em conhecimento bramânico). Ele costumava vender vários tipos de bebidas e era avesso à adoração dos deuses e às atividades virtuosas.
I:2:16 – Ele nunca praticou os louvores de Sandhyā (injunções prescritas) diariamente ou as abluções. Sua prática se assemelhava ao modo Vaiśya de vida (casta de comerciantes). Ele nunca hesitou em enganar pessoas crédulas. Seu nome era Devarāja.
I:2:17 – Matando ou usando vários meios enganadores, ele costumava roubar Brāhmaṇas, Kṣatriyas, Vaiśyas, Śūdras e outros.
I:2:18 –  Assim, por meios abomináveis, ele acumulou para si muita riqueza. Mas o pecador que ele foi, nem sequer a menor parte de sua riqueza foi usada para ações virtuosas.
I:2:19 – Uma vez aquele Brāhmaṇa foi a um lago tomar banho. Lá ele viu uma prostituta chamada Śobhāvatī e ficou muito agitado por sua visão.
I:2:20 – A bela mulher estava extremamente encantada por vir a conhecer aquele rico Brāhmaṇa que ela se tornou sua escrava voluntariamente. O coração do Brāhmaṇa se encheu de amor devido à sua conversa agradável.
I:2:21 –  Ele decidiu faze-la sua esposa e ela consentiu tê-lo como esposo. Assim, em mútuo amor, eles viveram por longo tempo.
I:2:22 – Sentando, deitando, comendo, bebendo e se divertindo juntos, eles não eram diferentes de qualquer casal.
I:2:23 – Embora ele fosse dissuadido repetidas vezes por sua mãe, pai, sua primeira esposa e outros, ele nunca deu atenção a estas palavras, mas continuou em suas atividades pecaminosas.
I:2:24 – Uma vez ele se tornou tão enfurecido que matou sua mãe, seu pai e sua esposa (a primeira esposa) na calada da noite enquanto eles dormiam, tomando posse de suas riquezas.
I:2:25 – Enamorado da cortesã ele lhe entregou sua própria riqueza e também a riqueza que ele roubou de seu pai, mãe e primeira esposa.
I:2:26 – Na companhia de sua prostituta, ele costumava comer todos os tipos de alimentos proibidos, tornou-se viciado em vinho e licores, e partilhou de sua comida no mesmo prato de sua concubina.
I:2:27 – Uma vez, em uma oportunidade, ele veio para a cidade de Pratiṣṭhāna15. Ele viu um Templo de Śiva onde homens santos estavam reunidos.
I:2:28 – Durante sua estadia lá, ele foi afligido por uma febre aguda. Ele ouviu um discurso sobre Śiva conduzido por um Brāhmaṇa.
I:2:29 – O Brāhmaṇa Devarāja sofrendo de febre morreu no fim de um mês. Ele foi amarrado com laços pelos serviçais de Yama e forçado a ir para a cidade de Yama.
I:2:30-33 – Em pouco tempo os serviçais de Śiva, vestidos de branco, com cinzas sobre todo o corpo, usando guirlandas de Rudrākṣa e portando tridentes em suas mãos, partiram furiosos do Śiva Loka em direção à cidade de Yama (o Deus da morte) e os açoitaram. Libertando Devarāja de suas garras, eles o estabeleceram em uma bonita carruagem. Quando eles estavam prestes a ir para o Kailāsa, um grande tumulto surgiu no meio da cidade de Yama ao saber que o próprio Dharmarāja (o Deus da Morte) manifestou-Se.
I:2:34 – Vendo os quatro mensageiros que pareciam como réplicas do próprio Rudra, Dharmarāja, o conhecedor das virtudes, honrou-os conforme os costumes.
I:2:35 – Yama veio a saber de tudo através de Sua visão de sabedoria. Por medo ele não questionou os nobres serviçais de Śiva.
I:2:36 – Sendo devidamente honrados e adorados por Yama, eles foram para o Kailāsa e entregaram o Brāhmaṇa a Śiva, o próprio oceano de misericórdia, e à Divina Mãe Pārvatī.
I:2:37 – Abençoado, de fato, é a estória do Śivapurāṇa, a mais sagrada de todas as estórias sagradas que ,por meramente ouvi-la, qualifica até mesmo o maior dos pecadores à salvação.
I:2:38 – O grande assento de Sadāśiva é a mais elevada morada e a mais nobre das posições que um escolar védico exaltou sobre todos os Lokas (mundos).
I:2:39-40 – Devarāja, o Brāhmaṇa inferior, viciado em vinho, enamorado de uma prostituta vil, assassino de seu próprio pai, mãe e esposa, e que por ganância por dinheiro tinha matado muitos Brāhmaṇas, Kṣatriyas, Vaiśyas, Śūdras e outros, tornou-se uma alma liberada imediatamente ao alcançar aquele supremo Loka.




Fim do Capítulo 2 
 –  A Liberação de Devarāja

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15 – Praṣṭhāna – existem referencias a duas cidades do mesmo nome: (1) uma cidade na confluência do rio Ganges e de Yamunā e capital dos primeiros reis da raça lunar;  (2) uma cidade em Godāvarī e capital de Sālivahana. A última cidade pode ser identificada com a moderna Paithan no distrito de Aurangabad. Ela era conhecida como Paiṭhīnasīpurī. SKII.vii 14.34,37.