“Deus decorou os céus com constelações (Nakṣatras) como pérolas em um corcel escuro. A Luz do Sol (Sūrya) as esconde durante o dia e todo o conhecimento é profetizado na escuridão da noite.” — Parāśara Muni, Ṛk Veda 1.68.04

Vênus debilitada e combusta

Hoje respondi a uma pergunta sobre se Vênus na 12ª nega felicidade no amor ou talentos artísticos. Disse que não. Vênus na casa 12 concede felicidade conjugal, prazeres na cama e, em relação aos homens, dá uma esposa submissa e/ou doméstica e para as mulheres faz as tímidas, caseiras e submissas ao esposo. Em ambos os casos leva a se relacionar com pessoas de outros Estados e até mesmo de outros Países, sempre de locais distantes. É evidente que temos de pensar que essa declaração não está observando o dispositor de Vênus, tanto para o Signo quanto para o Nakṣatra, os aspectos que Vênus e seu dispositor recebem de outros planetas, yutis e demais influências circundantes, bem como a Carta Navāṃśa que trata do casamento. Marte na casa 12, ao contrário de Vênus lá, é que nega a felicidade no amor, pois forma um Kuja Doṣa.

O que frequentemente “estraga” uma Vênus e faz com que o homem se sinta deslocado, com dificuldade de se relacionar com mulheres, é seu estado combusto. A combustão gera medo, medo de tomar iniciativa, medo de se envolver, medo de se entregar ao amor. A debilidade causa semelhantes problemas. O envolvimento de Vênus com maléficos leva a amores por interesse. Marte é o pior para causar paixões avassaladoras e, quando em yuti com Vênus em qualquer estado, gera obsessão amorosa, passionalidade, que pode fazer com que a pessoa use as ferramentas que estiverem disponíveis para assediar sua vítima, cercar, perseguir, envolvendo-a em uma trama que levará a ambos ao precipício. Crimes passionais se devem a esta associação. Caso isso se forme na carta Rāśi, a pessoa se torna uma passional; caso na Carta Navāṃśa, ela atrai um conjugue passional. Eis aqui a diferença.

Vênus na casa 12 também não nega habilidades artísticas, pois estas frequentemente são apontadas pela associação desse planeta, igualmente seu dispositor etc., como descrito acima, com outros planetas que significam o campo das artes. Vênus associada com Mercúrio, Sol, Júpiter, Lua e/ou em seus signos, confere grandes habilidades artísticas em campos específicos aos significadores desses planetas, evidentemente.


Portanto, Vênus é sempre benéfica (por natureza), e a menos que governe casas assassinas e/ou esteja combusta ou em debilidade, ou associada e recebendo influências de maléficos ou dos filhos desses maléficos, então ela não pode jamais causar mal a ninguém, ao contrário, por princípio ela é a grande doadora de prosperidade material, de desfrute (Bhoga), concedendo tudo o que for necessário para que a natividade tenha uma vida relativamente confortável nesse mundo.

Sobre Śukra Deva

Śukra, conhecido como o planeta Vênus, é filho de Bhṛgu, e passou a ser conhecido por Guru dos Asuras. O sábio Bhṛgu, um astrólogo, ensinou a seu filho todas as ciências espirituais e todas as escrituras. Śukra era inimigo de Bṛhaspati, o Guru dos Devas, e ele se tornou preceptor dos Asuras para protegê-los dos Devas.

Combustão e Debilidade

A combustão indica sempre uma punição, onde o Sol, significador da Alma do Kālapuruṣa, torna-se o punidor através de Agni, o grande elemento purificador de tudo. Os planetas significam pessoas e, assim, mostram as pessoas que foram afetadas pela má conduta da natividade em vidas passadas. Um planeta combusto está raivoso porque tem sua energia tomada pelo Sol e não pode, nesta vida, tornar a causar o mesmo mal que causou em anterior vida à pessoa específica. A punição vem em forma dolorosa, a natividade encontra dor e sofrimento a partir dos significadores daquele planeta. Vênus combusta frequentemente nega a felicidade no amor, enquanto que sua debilidade causa fraqueza no que ela governa sobre o corpo humano, ou seja, os hormônios procriadores e força para gerar outro ser vivente.

A combustão mostra um estado raivoso do planeta. Em que isso se aplica na vida da natividade? Significa dizer que pessoas associadas com aquele planeta combusto estão sempre a ensinar uma lição para a natividade. Se por um lado isso pode ser amenizado pela colocação do planeta em signos sattvicos, por outro pode ser agravado pela colocação em signos rajasicos ou tamasicos. Há sempre presente um conflito aqui. A harmonia é negada. Para homens há uma dificuldade no tato com mulheres, gera agressividade, desejo de domínio ou o outro extremo de repulsa/medo de se relacionar. Tanto pior se Marte aspectar o conjunto ou se Vênus estiver colocado em signo governado por Marte, pois o quadro se agrava gerando dificuldade para controlar o impulso sexual e levando a crimes passionais. Dificuldade para se fixar com uma só pessoa, tendência ao homossexualismo, experiências sexuais incomuns e promiscuidade são algumas das possibilidades de acordo com a colocação de demais planetas que geram associação com o sexo oposto ou com pessoas do mesmo sexo.

A debilidade mostra uma fraqueza orgânica em relação aos hormônios que controlam os órgãos de procriação. Dificuldade para gerar filhos, tanto para homens quanto para mulheres é a pior situação que se pode encontrar em uma Vênus debilitada.

Esses são os resultados mais frequentes que tenho encontrado em minhas análises.



Nandā-Vrata



Hoje é Kṛṣṇa Aṣṭamī de Aśvayuja Mase, ou Āśvina, o 7º mês lunar que ocorre entre Setembro/Outubro e que marca, de acordo com o Kālikāpurāṇa, o início da penitência espiritual que Satī Devī fez para conseguir se casar com Śiva. Apesar de ser dito por alguns escolares, e até mesmo em nota de rodapé no próprio texto, que essa penitência deve ser realizada na 1ª, 6ª e 11ª quinzenas da Lua, as quais recebem o nome especial de nandā-tithis, uma clara associação à Deusa Durgā também chamada Nandā, Satī a realiza nas seguintes Tithis, conforme o texto abaixo diretamente retirado do Kālikāpurāṇa, Cp. 9-10. A definição para as nandā-tithis pode até ser esta, entretanto, as tithis que agradam Devī e Śiva são as especificadas no texto. No Calendário Lunar deste mesmo Blog, mantenho a lista da adoração das divindades e das tithis que lhes são específicas, as quais estão de acordo com o texto abaixo. 

9:1-16 – Satī, portanto, cruzando sua infância, alcançou a juventude formosa, seu corpo era belo em aparência, com todos os membros carregados de beleza. Dakṣa, observando Satī alcançar o desabrochar da juventude, ponderou sobre como ele iria casar sua filha com Bharga. Satī, por sua vez, com o objetivo de ter Mahādeva por marido, sob a instrução de sua mãe, começou a adorá-lO (Mahādeva) todos os dias em casa. No oitavo dia da quinzena escura da Lua chamada Nandakā (Kṛṣṇa Aṣṭamī), no mês de Āśvina (Setembro-Outubro), ela adorou Maheśvara com os oferecimentos de arroz cozido com melaço e sal, assim ela passou o dia. No décimo quarto dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Caturdaśī) no mês de Kārttika (Outubro-Novembro), ela adorou Hara com bolo de arroz e arroz cozido no leite, assim ela lembrou Hara. No oitavo dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Aṣṭamī) da Lua no mês de Agrahāyaṇa (Novembro-Dezembro), ou Mārgaśīrṣa, ela adorou Hara com arroz fervido misturado com gergelim, grãos de cevada e papa de aveia, e figos (nīla); assim ela passou o dia. Na noite do sétimo dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Saptāmi) da Lua no mês de Pauṣa (Dezembro-Janeiro), Satī adorou Śiva com oferecimentos de mudga (phaseolus mangos). Na noite de Lua Cheia (Pūrṇimā) no mês de Māgha (Janeiro-Fevereiro) Satī passou a noite acordada a adorou Hara, com roupas molhadas, na beira de um rio. Ela, tendo prestado toda sua atenção a Hara, viveu em um dieta restrita pelo mês inteiro, o qual consistia de diferentes flores e frutos que cresciam na estação. No décimo quarto dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Caturdaśī) da Lua no mês de Phālguṇa (Fevereiro-Março), ela passou a noite sem dormir e adorou Hara com folhas de Bilva. No décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua no mês de Caitra (Março-Abril), ela adorou Śiva, dia e noite, com flores de Palāśa (a árvore Butea Frondosa); assim passou aquele dia. No terceiro dia da quinzena brilhante (Śukla Tritīya) da Lua no mês de Vaiśākha (Abril-Maio), ela adorou Hara com arroz cozido com cevada, e pelo mês inteiro ofereceu a Ele oblação de ghee; passou o tempo pensando nEle e sem tomar alimento (jejum). Na noite de Lua Cheia (Pūrṇimā) do mês de Jyeṣṭha (Maio-Junho), ela adorou Śiva com os oferecimentos de roupas e de flores Vṛhatī; assim ela passou aquela noite. No décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua no mês de Āṣāḍha (Junho-Julho), ela adorou Hara com flores Vṛhatī. No oitavo dia (Śukla Aṣṭamī) e no décimo quarto dia da quinzena clara (Śukla Caturdaśī) da Lua do mês de Śrāvaṇa (Julho-Agosto), ela adorou Śiva com oferecimentos do sagrado cordão (yajñopavīta), roupas e grama kuśa. No décimo terceiro dia da quinzena escura (Kṛṣṇa Trayodaśī) da Lua no mês de Bhādra (Agosto-Setembro), ela ofereceu uma variedade de flores e frutos para Śiva e O adorou novamente no décimo quarto dia (do mesmo mês) (Kṛṣṇa Caturdaśī), e então ela tomou água (jejum de alimento sólido).
10:1-2 – Então Satī, novamente, no décimo dia da quinzena clara (Śukla Daśamī) do mês de Āśvina (Setembro-Outubro), adorou Mahādeva, o Senhor dos Deuses, observando jejum, com devoção. Assim que Satī completou o Jejum de Nandāvrata, Mahādeva apareceu, em pessoa, em sua frente, no nono dia da quinzena brilhante da Lua (Śukla Navamī).

A penitência tem duração de um ano e é assim descrita neste Purāṇa. As tithis são estas, que seguem abaixo, enumeradamente.


Interessante notar nessa história que Śiva vai para Śakti, contrário ao fato de que a Śakti sempre vai em direção a Śiva (no Sahasrāra). Uma observação minha, digna de nota nesse trabalho que realizo na tradução e explicação dos Śāstras, de que Śiva também se move em direção à Śakti, ou seja, Ele (em determinado momento) é tão dinâmico quanto sua contraparte Śakti-poder.

(1) Kṛṣṇa Aṣṭamī de Āśvina;  (2) Kṛṣṇa Caturdaśī de Kārttika;  (3) Kṛṣṇa Aṣṭamī de Agrahāyaṇa (ou Mārgaśīrṣa); (4) Kṛṣṇa Saptāmi de Pauṣa;  (5) Pūrṇimā de Māgha; (6) Kṛṣṇa Caturdaśī de Phālguṇa; (7) Śukla Caturdaśī de Caitra; (8) Śukla Tritīya de Vaiśākha; (9) Pūrṇimā de Jyeṣṭha; (10) Śukla Caturdaśī de Āṣāḍha; (11) Śukla Aṣṭamī de Śrāvaṇa; e Śukla Caturdaśī de Śrāvaṇa; (12) Kṛṣṇa Trayodaśī de Bhādrapada;  e Kṛṣṇa Caturdaśī de Bhādrapada; (13) Śukla Daśamī de Āśvina do ano seguinte, encerrando a penitência.

Candrāyaṇa Vrata

Não há realização de yogas se maldições não forem removidas do mapa. Como já dito por mim em diversas outras postagens, a remoção de maldições se dá por diversos meios, quer penitências espirituais, banhos em rios sagrados, peregrinações a locais sagrados etc.

Vejamos que quando uma pessoa remove uma maldição de seu mapa, isto é semelhante à remoção do estado de debilidade de um planeta. Por exemplo, quem tem Júpiter debilitado no mapa deveria ir, em peregrinação, à Tārā Pīṭha, pois planetas debilitados representam as Das Mahāvidyās. Quando isso ocorre, a debilidade do planeta é removida e a vida da pessoa dá uma guinada de 180º positivo. Uma completa transformação ocorre, pois os yogas relacionados ao planeta podem então frutificar, trazendo todos os assuntos auspiciosos. Isto é, se forem Raja Yogas, trazem prosperidade na vida, elevado status, mudanças favoráveis etc.

Frequentemente tenho observado que planetas depositados em certas casas, cujos signos naturais governantes sobre aquela representam o sinal de debilidade do planeta, ainda que o tal planeta não esteja debilitado, sentem-se atraídos pela Mahāvidyā correspondente a aquele planeta. A adoração dessa divindade produz toda proteção na vida.

Como não há frutificação de yoga sem remoção de maldição, hoje complemento a postagem sobre Guru no dia do Guru Pūrṇima, o qual abordei por alto sobre o Candrāyaṇa Vrata para a remoção de maldição de Júpiter no mapa. Essa maldição, por envolver Júpiter, traz problemas em tudo na vida. Se Sol é a alma do Kālapuruṣa, Júpiter (como bem ensina Bhṛgu) é como Jīva encarnado, e qualquer aflição sobre Júpiter no mapa afeta a experiência de Jīva no mundo.  



Candrāyaṇa Vrata (*) é um jejum que tem a duração de um mês, começa no Amavasya (jejum inteiro). Em seguida, no primeiro dia da quinzena clara (Shukla Pratipat), um pouco de comida pode ser ingerida à noite (o jejum prossegue). No segundo dia essa quantidade de alimento é aumentada e assim sucessivamente até o 14º dia desta quinzena em Shukla Chaturdashi. O Jejum prossegue, entra em Pūrṇimāsya e no dia seguinte, em Kṛṣṇa Pratipat, o mesmo procedimento é feito, ou seja, uma porção de alimento à noite, mas aqui diminuindo essa porção a cada dia lunar quando então, no Amāvāsya (novamente total jejum) e no dia seguinte o jejum é quebrado.

Está escrito no Śiva Purāṇa sobre esse jejum –

Oh Sábios! No 13º dia da metade escura do mês, somente uma refeição será tomada (pelo penitente). Mas no décimo quarto, completo jejum deve ser observado. O décimo quarto da metade escura é certo trazer propiciação do Senhor Śiva ”.

Esse Jejum (Vrata) remove as maldições dadas por Júpiter no Mapa.

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(*) Texto Corrigido sobre a sequência das Tithīs. Segue ilustração sobre as fases lunares.