कुलार्णव
तन्त्रम्
KULĀRṆAVA TANTRAM
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प्रथम
उल्लासः
prathama ullāsaḥ
Primeiro Ullāsa
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Tradução para o Português a partir
do estudo das Obras em Sânscrito com comentários para o Inglês por:
Sir John Woodroffe,
M. P Pandit,
Prachya Prakshan &
Ram Kumar Rai
ॐ
ॐ गुरवे नमः
Oṁ Gurave Namaḥ
Traduzido para o Português por:
... uma yoginī em seva a Śrī Śiva Mahadeva ...
Karen de Witt
2012/2013
© Todos os direitos reservados.
O livro está disponível para leitura on-line, mas não pode ser comercializado.
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1:1 – Śrī Devī Pārvatī perguntou deste modo ao Todo
bem-aventurado, Senhor Supremo, Deus dos Deuses, Pai do Mundo, Śiva, quando Ele
estava sentado no cume do Monte Kailāsa.
Śrī Devī disse:
1:2-5
– Oh Senhor, Deus dos Deuses, criador das práticas sagradas, Onisciente,
Atingível com devoção, Libertador daqueles que buscam refúgio, Senhor do Kula,
Supremo Senhor, Oceano do néctar de compaixão! Infinitos números de criaturas
em milhares de formas corporificadas estão envolvidos em ciclos infindáveis de
sofrimentos de nascimento e morte, e não há redenção para eles. Absortos em
completa dor, eles nunca desfrutam da felicidade. Oh Senhor! Diga-me, portanto,
como eles podem obter a Liberação.
O Senhor disse:
1:6
– Ouça, Oh Devi, a resposta que você me pediu; até mesmo pelo simples ouvir, os
homens obtém a Salvação.
1:7
– Há uma Verdade, que é Śiva, o Parabrahmā, Inexpressivo, Onisciente,
Onipotente, Soberano de tudo, Imaculável e sem um igual.
As formas de
Śiva, características das Criaturas e suas Condições
1:8-9a
– O Auto luminoso, sem um início e um fim, desprovido de todos os atributos,
imutável, mais elevado dos elevados, desprovido de qualidades, Ele é
Saccidānanda. Todos os milhares de seres viventes são somente uma porção Dele,
mas Devido à eterna ignorância, separaram-se Dele como centelhas que embora emerjam
do fogo, separam-se dele.
1:9b-11
– Devido ao fato de carregarem o epíteto de ‘nascidos’ e suas ações iniciais,
eles permanecem separados de Śiva e são regulados pela felicidade de suas
virtudes e dores de seus pecados. De acordo com suas ações obtém formas corporais,
idades e destinos das espécies respectivas, estas criaturas ignorantes
continuam infinitamente passando de nascimento a nascimento.
As quatro
espécies de Criaturas
1:12-13a
– Os vários tipos de Jīvas nascem sobre esta terra mil vezes, respectivamente,
em vários graus, ou seja, Udbhij ou
nascidos imóveis fora do sol; Svedaja
ou nascidos móveis sem suor,
tais como os insetos etc.; Aṇdaja, ou aqueles nascidos dos ovos, tais como os
pássaros etc.; e Farāyaj, ou os nascidos do útero, tais como os animais, os
homens em diferentes estágios de desenvolvimento, os Deuses e os Seres
Liberados.
A
superioridade do corpo humano
1:13b-15 – Das 84,00,000 formas corporais, o corpo humano
é o mais importante, pois é nesta forma
que se obtém o conhecimento da Essência. Este conhecimento da Essência não pode
ser alcançado em qualquer outra forma que não a humana. Mesmo em centenas de
milhares de nascimentos, Oh Pārvati! Quando devido ao acúmulo de ações
virtuosas, um ser humano com esforço obtém o conhecimento da Essência, ele se
torna um Liberado.
1:16 – Dotado com a forma humana como uma escada para
Emancipação se alguém não libertar seu Ātma, então ele pode ser mais pecador do
que ele.
1:17 – Obtendo um nascimento superior e melhor, com um belo
aparelho motor e órgãos sensoriais, aquele que não entende o melhor de seu
empenho é como um suicida.
1:18 – Nenhuma criatura em qualquer outra forma corporal,
além daquela humana, pode buscar os mais elevados objetivos da vida. Portanto,
dotado com a preciosa riqueza do corpo humano, deve-se favorecer em ações
virtuosas.
A Preservação do Corpo
1:19 – Com todos os esforços, deve-se preservar seu Eu. O
eu é a causa eficiente de todas as coisas. Portanto, com todo cuidado, deve-se
preservar seu Eu.
1:20 – Terras da aldeia, dinheiro e casa, poderiam ser
obtidos repetidamente; mas o corpo humano não pode ser obtido novamente.
1:21 – Os homens devem fazer esforços persistentes para a
preservação de seus corpos. Não é apropriado deixar o corpo morrer por aflições
de doenças como lepra etc.
1:22 – Assim, enquanto o corpo existir deve-se viver de
acordo com as leis do Dharma. O Dharma conduz ao conhecimento; o conhecimento
conduz à Dhyāna e ao Yoga, que embora secreto leva à Liberação.
1:23 – Se a própria pessoa não encontrar os meios para a
Liberação de seu Eu, quem mais providenciará os meios favoráveis para esta
Liberação?
1:24 – Quem não tenta curar-se de doenças neste mundo (em
que vive), o que ele poderá fazer por sua doença quando ele for para um local
onde nenhum tratamento é útil?
1:25- É um tolo quem começa a cavar um poço quando sua
casa já está em chamas. Portanto, enquanto este corpo existe, deve-se
seriamente devotar-se para a investigação da Verdade Última.
1:26-27 – A velhice perambula como um tigre; a idade
diminui como a água em pote quebrado; a doença ataca como um inimigo. Portanto,
tome o auspicioso caminho bem antes que seus membros percam aquela vitalidade e
as adversidades se acumulem sobre você.
1:28 – Nos vários propósitos mundanos o tempo voa
despercebido. Envolvido em seus prazeres e dores Jīva permanece inconsciente de
seu auto interesse.
1:29-30 – Apaixonado pelo vinho da ignorância ele não
teme nem mesmo quando ele vê no mundo os seres entorpecidos, aflitos, mortos, a
calamidade e a miséria extrema. Ele não se dá conta de que a prosperidade é
como um sonho, a juventude como uma flor perecível, a expectativa de vida
momentânea como um relâmpago, e permanece satisfeito de si mesmo.
1:31 – Mesmo uma vida de cem anos também é pouca, pois a
metade dela é gasta em sono e a outra metade é feita infrutífera pela infância,
doença, miséria, velhice e outras coisas a mais.
1:32 – Falta-lhe diligência onde ele deveria estar ativo;
ele dorme quando deveria estar desperto; permanece seguro onde deveria estar
apreensivo – então, por que a morte não deveria infringi-lo?
1:33 – O corpo tem curta vida como uma bolha de água.
Residindo nele como um pássaro, como Jīva pode permanecer sem medo em um mundo desagradável
e perecível?
1:34 – Jīva considera favorável o que não é favorável;
considera permanente o que é transitório; considera útil o que é inútil; e não
vê sua própria morte.
1:35 – Oh Devī! Iludido por Māyā, ele não enxerga o que
ele vê, nem compreende o que ouve; e nem segue o que lê.
1:36 – Este mundo estando mergulhado em insondáveis oceanos,
o Jīva aqui não reconhece os crocodilos da morte, doença e velhice à espreita.
1:37 – Ele falha em ver que conforme o tempo passa, seu
corpo decai; não percebe que igual a um pote de barro mal cozido na água seu
corpo é gradualmente destruído.
1:38 – Fazendo um recinto pode-se evitar o vento ou se
abrigar do céu, e pela construção de uma barreira as ondas podem ser
obstruídas; mas a passagem da vida não pode ser interrompida por qualquer meio.
1:39 – Oh Devī! A terra chamusca, o monte Meru quebra, a água do oceano seca,
então o que dizer do corpo – ou seja, o corpo deveria também perecer
inevitavelmente.
1:40-41 – O homem continua tagarelando acerca de “meus
filhos”, “minha esposa”, “minha riqueza”, “minha relação”! A morte o engole
quando ele está até pensando o que está feito, e o que está a meio caminho
andado.
1:42 – Portanto, faça hoje o que é necessário ser feito
amanhã; faça na parte da manhã o que deve ser feito à tarde, por que a morte
não percebe o que é feito ou não feito.
1:43 – Homem sábio, você não vê rondando a sua volta a
Morte, armada com uma hoste de doenças terríveis?
1:44 – Atravessado pela lança do desejo, umedecido no
lubrificante do desfrute dos sentidos, cozido no fogo dos gostos e desgostos, o
homem é um banquete da Morte.
1:45 – A morte devora todos os fetos, as crianças, os
jovens e os velhos. Esta é a regra que prevalece no mundo.
Perecibilidade dos Deuses como Brahmā etc.
1:46 – Deuses como Brahmā, Viṣṇu, Maheśa e os vários
Seres Elementais são também perecíveis. Portanto, deve-se sempre se esforçar
pelo seu bem-estar.
Causas da decadência na expectativa de vida
1:47 – A falta de fidelidade aos deveres da própria
classe, esforços por ganhos ilícitos, desejo pela esposa e a riqueza dos
outros, tudo isso leva à decadência dos anos dos homens.
1:48 – Aversão às práticas dos preceitos védicos,
infidelidade para com os Gurus, e falta de restrição aos desejos sensuais
também diminuem a expectativa de vida.
1:49 – Independentemente dos meios destinados para a vida
terminar, seja por doença, calamidade, veneno, arma, serpente ou animais como
leões etc., cumpra seu destino daquela maneira.
1:50 – Como uma palha de grama na água, Jīva com seu
corpo causal vai de um corpo para outro, como se ocupando uma nova casa ele
deixa a anterior.
1:51 – Assim como em um corpo Jīva muda da infância para
a juventude, da juventude para a velhice, assim ele passa para outro: de uma
casa para outra.
Frutos das ações de uma vida colhidos em outra
1:52-53 – Os homens submetem-se a prazeres e dores
conforme às ações que eles realizaram. Aqueles ignorantes, que não têm nenhum
conhecimento do outro mundo, giram do nascimento à morte e novamente da morte
ao nascimento. Qualquer que seja a ação realizada, ele colhe seus frutos
igualmente no próximo mundo, assim como uma árvore que é regada nas raízes
mostra os frutos em seus ramos.
Os sofrimentos Devido aos próprios pecados
1:54 – Pobreza, dor, doença, escravidão, vícios são os
frutos das árvores de seus próprios pecados, os quais os homens têm de
carregar.
Não-apego é Liberação
1:55 – Não-apego é o único caminho para a Liberação;
todos os males nascem do apego. Portanto, a rejeição ao apego e a devoção ao
verdadeiro conhecimento por si só faz a felicidade. Mesmo os esclarecidos são
movidos pelo apego, então o que dizer dos seres inferiores?
1:56 – Portanto, desista do apego completamente. Se você
não puder fazer, recorra à companhia dos Bons, porque a companhia dos Bons e os
Santos agem como um remédio.
1:57 – A companhia de pessoas santas e o conhecimento
discreto são dois olhos limpos e afiados. Quem é desprovido de um ou de outro
é, de fato, como um cego. Como ele pode então falhar e tomar o caminho errado?
1:58 – Enquanto Jīva mantém sua mente apegada aos
relacionamentos mundanos, assim também seu coração permanece em sofrimento.
1:59 – Oh Kuleśvarī! Deixando este corpo quando Jīva vai
embora, então qual é a utilidade do relacionamento estável como esposa, mãe,
pai ou filho?
Males do mundo
1:60 – Este mundo é a raiz de todos os males. Quem está
aqui está sofrendo. Portanto, quem renuncia ao mundo desfruta de felicidade. Oh
Minha Amada! Não existe outro meio.
1:61 – Oh Minha Amada! Este mundo é um local que dá
nascimento a todos os sofrimentos, todas as calamidades e é um repositório de
todos os pecados. Portanto, é apropriado que se deva renuncia-lo.
1:62 – Quem é apegado ao mundo permanece atado mesmo sem
uma corda. Pois seu forte veneno é misturado em sua vida e, Oh Devī!, ele é
cortado em pedaços sem qualquer arma.
1:63 – Para ele no início, meio e fim da vida o
sofrimento existe em qualquer lugar. Portanto, renuncie ao mundo e busque a
Verdade para a felicidade.
1:64 – Mesmo quem está preso firmemente em correntes
espinhosas pode se tornar livre, mas alguém apegado a mulher e riqueza não pode
ser livre.
1:65 – Para quem está sempre absorto em seu
relacionamento familiar, as qualidades como a erudição e o bom caráter são como
um pote de barro mal cozido na água.
1:66 – Situado no corpo os órgãos dos sentidos,
alimentando-se dos objetos dos sentidos, são como contrabandistas,
constantemente causando a destruição dos homens com desejos insaciáveis.
1:67 – Assim como o ávido por carne um peixe não vê a
isca de ferro, assim uma pessoa ávida de (mundana) felicidade não vê a interferência
de Yama, que é a morte.
1:68 – Minha Amada! Quem está inconsciente de suas perdas
e ganhos, quem está sempre trilhando o caminho errado, quem está engajado
somente nos sentimentos do estômago, não sabe o que é o inferno.
1:69 – Oh Amada! Dormir, copular, comer e outras funções
são comuns a todos os animais. Somente o homem é dotado de conhecimento. Quem é
desprovido disto é um animal.
1:70 – Os homens são incomodados pelas fezes e urina pela
manhã, fome e sede ao meio-dia, e sexo e sono à noite.
1:71 – Todos os Jīvas, constantemente engajados nas
necessidades de seus próprios corpos e aquelas de suas esposas, iludidos pela
ignorância, sofrem repetidamente o ciclo de nascimentos e mortes.
1:72 – Engajados incessantemente na realização de suas
respectivas classes de deveres e pouco mais, os homens não vêm a Suprema
Verdade; e, Oh Pārvatī!, os tolos perecem por esse meio.
1:73 – Alguns estão absortos em rituais; alguns realizam
adoração e sacrifícios; mas absortos em profunda ignorância tais pessoas
enganam a si e aos outros.
1:74 – Contente somente com nome, estes homens
deleitam-se nos rituais, são iludidos pela repetição de Mantras, Homa e
sacrifícios elaborados.
1:75 – Iludidos por sua Māyā, estes tolos esperam se
realizar no mais elevado por austeridades e emancipação de seus corpos.
1:76 – Se o ignorante pudesse alcançar a liberdade
somente pela tortura de seus corpos, a serpente estaria morta, Oh Devī!, quando
o formigueiro é atingido.
Sem conhecimento discriminativo não há liberação
mesmo através da emancipação do corpo
1:77 – Acautelar-se desses pseudo-gurus, com a intenção
de acumular riqueza, vestindo-se disfarçadamente, que vagueiam em todos os
lugares como Jñānīs e lançam os outros em ilusão.
1:78 – Apegados aos prazeres do mundo eles ainda
proclamam “eu conheço Brahma”. Caídos tanto das ações quanto do conhecimento,
tais pessoas devem ser evitadas.
Omissão das Práticas Ritualísticas
1:79 – Não existem burros e semelhantes a quem casa e
floresta são semelhantes e que vagueiam nus sem vergonha? Eles todos se tornam Yogīs
por isso?
1:80 – Se os homens pudessem se tornar liberados por
mancharem-se com poeiras e cinzas, todos os camponeses que vivem em meio à
poeira e às cinzas se tornariam liberados?
1:81 – Os habitantes das florestas como o veado e outros
animais vivem de grama e água. Então, Oh Devī!, eles se tornam Yogīs por isso?
1:82 – Sapos e peixes vivem todos nos rios, tal como o
Ganges; eles adquirem mérito especial por isso?
1:83 – Oh Devī!, papagaios e mynās recitam diante das
pessoas as palavras sagradas com prazer; eles são considerados grandes eruditos
por conta de suas recitações?
1:84 – Pombos comem nada senão caroços; Cātakas (o
pássaro Cucculus Melanoleucus) não bebem lama; são estes também Yogins?
1:85 – Animais, como porcos, aguentam o inverno frio e o
verão quente e para eles o alimento próprio ou impróprio é parecido; são eles
Yogins por isso?
1:86 – De fato, tais privações e auto negações são, Oh
Kuleśvarī, somente para enganar o mundo enquanto o imediato Conhecimento da
Verdade por si só é o meio para a Liberação.
Não há Liberação a partir do estudo dos Śāstras sozinho
sem o Conhecimento Espiritual
1:87-88 – Oh Minha Amada!, as pessoas caem no fundo do
poço dos Seis Sistemas de Filosofias, mas controlados pelos laços carnais são
inábeis para alcançar o conhecimento espiritual. Lutando no profundo oceano dos
Vedas e dos Śāstras, eles são apanhados pelas terríveis ondas e os crocodilos
que residem lá na forma de discussões filosóficas e dos debates.
1:89-91 – Eles leem os Vedas, Āgamas e Purāṇas, e ainda
assim não conhecem a Mais Elevada Verdade do Divino – o verdadeiro objetivo da
vida – como um engano, grasnando como uma vaca. Com suas costas voltadas para Verdade
Real a ser conhecida, eles ponderam sobre livros incessantemente, ansiosamente
dizendo “isto deve ser conhecido”, “este é o conhecimento” e assim por diante.
Embelezado com tal conhecimento de estilo, sintaxe, poesia e ornamentos
retóricos do sentido do som, estes tolos ficam confusos e apreensivos.
1:92 – A Verdade Real é uma e o que eles entendem é muito
diferente; o significado das escrituras é um e o que eles interpretam é outro.
1:93-94 – Eles falam de consciência sem ego (Unmanī-avasthā) mas não experimentam
este estado. Alguns são vítimas do egoísmo e alguns permanecem desprovidos de
instruções. Eles cantam os Vedas e disputam entre eles, mas como a concha que
não conhece o gosto do melado que ela segura, eles não conhecem a Verdade.
A Verdade inerente no eu
1:95 – A cabeça pode usar as flores, mas é o nariz que
pode sentir sua fragrância. Assim, eles pode ser pessoas que cantam os Vedas e
as Escrituras, mas raros são os que ser tornam um com seu espírito.
1:96 – Esquecendo que a Verdade Divina está dentro de si
mesmo, eles buscam por Ela nos livros, como o pastor que busca a cabra quando
ela já está no rebanho.
1:97-98 – O conhecimento verbal não é proveitoso para a
destruição da ilusão do mundo; assim como a escuridão não é dissipada por
meramente falar da lanterna. O estudo de uma pessoa sem sabedoria é como um
cego se olhando em um espelho. É somente os homens de sabedoria desperta que
podem se beneficiar dos Śāstras.
1:99-100 – Homens famosos por suas qualidades como erudição,
filantropia e valentia estão discutindo por todos os lados e meios que a
Verdade Divina é de um tipo ou de outro; mas se eles não percebem aquela
Verdade diretamente, qual o sentido de falar Dela? Aqueles que estão tolamente
envolvidos assim nos Śāstras estão, inquestionavelmente, longe da Verdade.
1:101 – Em todos os lugares eles parecem ouvir coisas
tais como “este é o conhecimento e isto é que deve ser adquirido”; mas, Oh
Devī!, pode-se gastar milhares de anos ouvindo o conhecimento dos Śāstras e
ainda nunca alcançar o seu fim.
1:102 – Intermináveis são os Vedas, os Śāstras etc., e
milhões de obstáculos como expectativa de vida limitada. Portanto, é sábio ir
direto à essência das Escrituras como o cisne bebericando leiro fora da água.
1:103 – Praticando todos os Śāstras e conhecendo a sua
Verdade essencial, o inteligente deve deixa-los como os catadores de grãos
deixam as cascas de lado.
1:104 – Como alguém que tem se saciado com a bebida do
néctar não precisa nem de comida, assim, Oh Devī!, quem conhece a Essência da
Verdade não precisa de nenhum conhecimento dos Śāstras.
A Liberação somente através do Conhecimento Real
1:105 – A Liberação não é obtida quer pela recitação dos
Vedas ou pelo estudo dos Śāstras. Oh Vīravandite!, Jñāna, ou o Conhecimento
Real por si só pode dar a Liberação, nada mais do que isso.
A instrução do Guru sozinho pode dar a Liberação
1:106-107 – Nem Āśramas (os quatro estágios da vida), nem
filosofias ou Ciências podem providenciar os meios para a Liberação; somente o
Jñāna de todos os Śāstras pode dá-la. E este Jñāna pode ser recebido através
das palavras de um Guru. Todos os outros meios são enganosos, opressivos; o
conhecimento da Verdade sozinho é vivificante.
1:108 – O Supremo Conhecimento Daquele declarado por
Śiva, livre de ritual e austeridade, deve ser recebido da boca do Guru.
Dois tipos de conhecimento – Escritural e Raciocínio Mental
1:109 – O conhecimento é de dois tipos: um derivado das
Escrituras e o outro nascido do raciocínio mental. O conhecimento derivado das
Escrituras está na forma de Śabda-Brahma, e o nascido do raciocínio está na
forma de Parabrahmā.
1:110 – Alguns preferem o Não-dualismo, e outros o
dualismo; mas nenhum nem outro conhece Minha Verdade que está acima tanto do
dualismo quanto do não-dualismo.
1:111 – “Meu” e “não meu” transmitem prisão e liberação.
“Meu” é o termo que age para a prisão, e “não meu” significa Liberação.
1:112 – A ação verdadeira é aquela que não ata, o
Conhecimento Verdadeiro é o que dá a Liberação. Outras ações são causas de dor;
outros conhecimentos faz apenas para a arte.
Nenhum conhecimento Espiritual sem controle dos Sentidos e bondade do Guru
1:113 – Enquanto houver desejo sexual, enquanto houver
apego ao mundanismo e enquanto houver atividade dos sentidos, como pode haver
algum comentário sobre Propósito Elevado?
1:114 – Enquanto houver agitação de esforço, enquanto
houver atividade de pensamento, enquanto não houver estabilidade da mente, como
pode haver algum comentário sobre Propósito Elevado?
1:115 – Enquanto houver identificação com o corpo,
enquanto houver identificação com o ego e enquanto não houver nenhuma Graça do
Guru, como pode haver algum comentário sobre Propósito Elevado?
1:116 – Austeridades, observâncias, peregrinações, Japa,
Homa, Adoração, Vedas, Āgamas e Śāstras – tudo isto deve ser buscado somente
enquanto a Verdade Suprema não for alcançada.
1:117 – Portanto, Oh Devī!, se alguém desejar sua
Liberação, ele deve estar atento à Divina Verdade, sempre, com todos os seus
esforços e em todas as condições.
1:118 – Afligido com quem está com triplas angústias, ele
deve buscar a sombra da Árvore da Liberação em cujos ramos o Dharma e Jñāna
florescem e cujo fruto é o Mundo da Bem-Aventurança.
1:119 – Por que falar tanto? Em uma palavra, Oh Pārvatī!
Ouça o segredo. De fato, e sem dúvida, é o Kula-dharma que Libera.
1:120 – Assim, Oh Devī! Falei a Verdade para você; o qual
depois de conhecer da boca do Guru, os homens sem esforço livram-se da
escravidão do mundo.
1:121
– Oh Minha Amada! Declarei assim em resumo as condições dos Jīvas. Agora, Oh
Kuleśvarī! O que mais você quer ouvir?
Iti śrīkulārṇave mahārahasye sarvāṁgamottamottame
sapādalakṣagranthe pañcamakhaṇḍe ūrddhvāmnāyatantre
jīvasthitikathanaṁ nāma
prathama ullāsaḥ ||1||