Quadrantes – os Pilares da Carta
Natal
Fugindo um pouco de toda aquela
linguagem comumente usada em estudo e análise, com suas regras matemáticas e
leis que permeiam os Śāstras em Jyotiṣa, vou agora explicar o porquê de os Quadrantes
serem considerados os Pilares de toda a Carta. Uma vez que se pode entender a
explicação óbvia por trás de uma regra em Jyotiṣa, toda a visão sobre ela se
amplia e, igualmente, o estudo e a prática se tornam muito mais atraente, pois
desfaz a característica maçante de um aprendizado puramente dogmático. Não há
qualquer necessidade aqui de dizer “é assim porque fulano disse”, ou, “é assim
porque está escrito nos Śāstras”. Simplesmente o Astrólogo saberá explicar o
porquê de ser assim com suas próprias palavras.
Uma Carta Natal é nada mais do
que um Yantra mais complexo do que vocês provavelmente tenham visto por aí, onde
igualmente existem os quadrantes, as pétalas, os ângulos, os Dikpalas com suas Armas, seus Vāhanas e suas Śaktis etc., tudo
elaboradamente disposto, com uma divindade central que conduz a vida da
natividade sobre a terra, igualmente sua Śakti, sua comitiva etc. Obviamente existem as
diversas divindades planetárias em uma Carta, que são os Navagrahas, e todas as
outras associadas a eles, como ensinado pelos Ṛṣis, como que para enfatizar
diversos aspectos da vida de um indivíduo de um modo mais complexo e profundo.
Mas isto não nos impede de verificar que existe uma Divindade importante
conduzindo a vida da Natividade, e que ela está lá no centro da Carta.
Antes de prosseguir, atente para
o fato de nesse estudo estar presentes conceitos de Nimitta (sonhos e seus
significados).
Os Quadrantes (1, 4, 7, 10) são
os pilares do horóscopo porque são eles que sustentam toda a vida de um ser
vivente aqui neste mundo. Também são chamados de portas, pois é por meio deles
que Jīva entra e sai deste mundo.
Observe que Jīva entra no mundo
pelo Lagna (casa 1), o eixo Dharma Trikoṇa, para realizar seu Dever neste mundo,
e sai por Yuvati Bhāva (casa 7), o eixo Kāma Trikoṇa. É por meio de Karma Bhāva
(casa 10), que Jīva realiza seu Trabalho neste mundo, o eixo do Artha Trikoṇa,
cujas ações boas ou más determinarão se ele alcançará os Lokas mais elevados
(casa 10, Meio do Céu) para desfrutar de parte de seu Karma antes de tomar
outro nascimento1, ou se conseguirá obter Mokṣa (casa 4,
Fundo do Céu), o eixo Trikoṇa Mokṣa, obtendo a liberação definitiva da roda de
Samsara. Portanto, como pode perceber toda a vida de Jīva nesta terra entra e
sai pelos Pilares de uma Carta, o que também, devido a isto, podem ser chamados
de Portas de entrada e saída deste mundo.
Dharma Trikoṇa 1, 5, 9
Artha Trikoṇa 2, 6, 10
Kāma Trikoṇa 3, 7, 11
Mokṣa Trikoṇa 4, 8, 12
Nimitta e suas Interpretações com conceitos em Jyotiṣa
Então, temos de ir por partes, usando conceitos em
Jyotiṣa sobre Nimitta (sonhos), para interpretar corretamente o sonho no qual
Guruji dizia:
“Para
acabar com os problemas que te atormentam, você só precisa fechar os quadrantes
em seu mapa, pois é através deles que o mal entra. Olhe para Gaṇeśa, pois é Ele
o guardião de todas as portas”.
A interpretação vai além dos quadrantes e requer um pouco
mais de conhecimento. Eu sempre afirmo que o que faz um bom astrólogo é a sua
capacidade de associação de diversos conceitos, uma boa memória etc. Sonhos são
sempre muito simbólicos, mas existe dentro de cada um a capacidade intrínseca
de interpretar cada um desses símbolos conforme a sua própria experiencia de
vida neste mundo. Você sempre tem o conhecimento do símbolo, basta se esforçar
para buscar dentro de si mesmo uma associação do símbolo com algo que você
tenha vivido, estudado ou experienciado.
Como o sonho tem elementos em Jyotiṣa, será impossível
para você, Astrólogo Tropical, tentar aplicar este conceito senão sob a ótica
da Astrologia Sideral.
Desde que você pode perceber que os Quadrantes são as
portas de entrada e saída deste mundo, o bem e o mal também entrarão por essas
portas. A Carta Natal de uma pessoa, assim quando ela vem no mundo, é como um
gráfico que nos permite ler suas tendências neste mundo a partir de seu Karma de
vidas passadas que o conduzirá por esta vida. Os períodos planetários sugerem
mudanças, acentuando ou amenizando determinadas tendências, favorecendo ou
negando certos acontecimentos. Assim, uma pessoa que passe por sua Mahādaśā de
Maṅgala (Marte), está propícia a acidentes na região governada pelo Nakṣatra
onde Maṅgala está colocado ao nascimento. Um exemplo bem fundamental, pois os
trânsitos deste Graha (Planeta) também sugerem alguns contratempos já que ele é
um maléfico natural e, dependendo de sua colocação no mapa, pode mais ferir do
que trazer qualquer benefício para a natividade.
Planetas
aflitos nos Quadrantes
O Lagna representa a porta de entrada de Jīva neste
mundo e, principalmente, a sua inteligência, qualquer aflição com seu
Governante, maléficos e, sobretudo, Gulika posicionado nesta casa, trará aflições
não só para a longevidade da natividade como também para o seu senso de
discernimento entre o certo e o errado. Dependendo da Lua ao nascimento, essa
pessoa poderá estar consciente ou não de seus tormentos. Estando consciente de
seus tormentos, ela fará algo por si mesma para amenizar; caso contrário, não.
A Lua traz uma percepção clara da realidade espiritual
que a Natividade vive, pois é através dela que se vê quem tem ou não
mediunidade e como a pessoa faz uso dessa mediunidade em sua vida na terra. Uma
Lua aflita por Gulika é sempre indicativo de uma mente perturbada
espiritualmente. Não há clareza aqui. Uma Lua aspectada por benéficos, em yuti
etc., é como se recebesse um paliativo para todos os seus tormentos, e neste
caso sempre há uma percepção clara do mundo espiritual a sua volta.
Qualquer influência através de Śubhārgalās ou
Papārgalās, sejam obstrutivos ou não, caracterizam um movimento em torno das
aflições no Lagna e são como estopim para ativar o problema.
Assim devem ser analisados todos os Quadrantes. Quem é
o Governante, onde ele está depositado e em yuti com quem, quem o aflige, se há
aflição direta naquele quadrante pela posição de um maléfico, se há argalās
naquela Daśā que estejam ativando ainda mais o problema, se há qualquer olhar
de um maléfico sobre o Quadrante e, principalmente, o trânsito planetário onde
tudo começo. Esse é o caminho para identificar se há alguma porta aberta que
permite a entrada de alguma aflição na vida da natividade.
Após identificar o problema, a retificação planetária é o caminho
mais óbvio a seguir. Feita a retificação, problema resolvido.
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1. “Um homem nasce neste mundo pra desfrutar ou sofrer a
consequência de suas ações de nascimentos passados. Uma parte deste (Karma) ele
colhe no paraíso ou no inferno, mas para o restante ele toma um novo nascimento.
1:33 – Praśna Mārga”. Aqui Harihara faz referência aos Lokas pelo qual a alma
permanece após a morte física, onde então ela esgota parte de suas sementes
Karmicas de acordo com o que ela semeou. A outra parte é somente esgotada por
meio da experiência no mundo da forma, como no Śloka seguinte é declarado.
“Existem dois tipos de Karma, ou seja, Sanchita e
Prarabdha Karma. Os efeitos de Sanchita serão esgotados no paraíso ou no
inferno. O resultado do Prarabdha Karma será diminuído somente pela experiência
deles.1:34” Harihara fala somente em dois tipos de Karma, para efeitos
das análises astrológicas neste contexto, o Sanchita e o Prarabdha. Sanchita
Karma é a soma dos Karmas passados, de todas as ações boas e más. Uma parte é
colhida (esgotada) antes da reencarnação enquanto a outra, chamada Prarabdha
Karma só pode ser esgotada durante a vida terrena. Em “All About Hinduism”, Sw.
Śivānanda fala sobre os tipos de Karma: “Prarabdha Karma é a parte responsável
pelo corpo atual. Aquela parte de Sanchita Karma que influencia a vida humana
na presente encarnação é chamada de Prarabdha, ou seja, o que está maduro,
pronto para ser colhido, não pode ser mudado ou evitado.” B.V. Raman, em seu
trabalho “Astrology and Modern Thought”, fala exaustivamente sobre a
teoria do Karma.
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