I – A Grandeza (Glória) do Śivapurāṇa
Capítulo 2 – A Liberação de Devarāja
Śaunaka disse –
I:2: 1 – Oh
Sūta, você é o mais abençoado e o mais afortunado conhecedor da grande Verdade.
Você narrou a nós, por sua grande compaixão, esta admirável e divina estória.
I:2:2 – Esta
maravilhosa narrativa que destrói as hostes de pecados, que purifica a mente e
que propicia o Senhor Śiva, foi ouvida por nós.
I:2:3 – Gratos
por sua compaixão, temos compreendido que não existe nada, decididamente, tão
bom e agradável quanto esta estória.
I:2:4 – Quem
dentre aqueles pecadores na Era de Kali que foram santificados por esta
estória? Por favor, esclareça-nos. Torne o mundo inteiro grato.
Sūta disse –
I:2:5 – Os
homens que habitualmente cometem pecados, pessoas más que se satisfazem em
atividades viciosas e pessoas devassas em disposição, tornam-se puros por este
meio.
I:2:6 – Este é o
grande Jñānayajña; ele assegura o prazer mundano bem como a liberação; ele
dispersa todos os pecados e agrada Śiva.
I:2:7 – Os
homens esmagados pela sede da cobiça, desprovidos de veracidade, que
desacreditam até mesmo seus pais, arrogantes, vaidosos, e pessoas inclinadas às
atividades violentas, tornam-se santificadas por isto (a leitura do Śivapurāṇa).
I:2:8 – Aqueles
que nunca praticaram os deveres de seus Varṇas e Āśramas (castas e os quatro estágios da vida) e possuem o temperamento
maldoso, tornam-se santificados pelo Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:9 – Aqueles
que habitualmente praticam o engano e que são de uma disposição implacável e
cruel, tornam-se santificados pelo Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:10 – Aqueles
que roubam a riqueza dos Brāhmaṇas e assim se alimentam, aqueles que se satisfazem em crimes hediondos
de adultério, tornam-se santificados por este Jñānayajña mesmo na Era de Kali.
I:2:11 – Aqueles que sempre se satisfazem
em ações pecaminosas e aquelas que são pessoas tratantes de mente perversa,
tornam-se santificados por este Jñānayajña até mesmo na Era de Kali.
I:2:12 – Os homens de hábitos
impuros e de mente perversa, homens que não conhecem a paz e homens que escondem
os bens que lhes foram confiados, tornam-se santificados por este Jñānayajña até mesmo na Era de Kali.
I:2:13 – O mérito derivado deste
Purāṇa destrói os grandes pecados e assegura os prazeres mundanos e a liberação
e agrada ao Senhor Śiva.
I:2:14 – Neste contexto uma anedota antiga é citada como
um exemplo. Por meramente ouvir isto (a anedota), isto remove todos os pecados
completamente.
Aqui começa a narrativa da vida de Devarāja
Aqui começa a narrativa da vida de Devarāja
I:2:15 – Na cidade de Kirātas
viveu um Brāhmaṇa (casta de sacerdotes)
extremamente pobre e deficiente em conhecimento (em conhecimento bramânico). Ele costumava vender vários tipos de
bebidas e era avesso à adoração dos deuses e às atividades virtuosas.
I:2:16 – Ele nunca praticou os
louvores de Sandhyā (injunções prescritas)
diariamente ou as abluções. Sua prática se assemelhava ao modo Vaiśya de vida (casta de comerciantes). Ele nunca
hesitou em enganar pessoas crédulas. Seu nome era Devarāja.
I:2:17 – Matando ou usando vários
meios enganadores, ele costumava roubar Brāhmaṇas, Kṣatriyas, Vaiśyas, Śūdras e
outros.
I:2:18 – Assim, por meios abomináveis, ele acumulou
para si muita riqueza. Mas o pecador que ele foi, nem sequer a menor parte de
sua riqueza foi usada para ações virtuosas.
I:2:19 – Uma vez aquele Brāhmaṇa
foi a um lago tomar banho. Lá ele viu uma prostituta chamada Śobhāvatī e ficou
muito agitado por sua visão.
I:2:20 – A bela mulher estava
extremamente encantada por vir a conhecer aquele rico Brāhmaṇa que ela se
tornou sua escrava voluntariamente. O coração do Brāhmaṇa se encheu de amor
devido à sua conversa agradável.
I:2:21 – Ele decidiu faze-la sua esposa e ela consentiu
tê-lo como esposo. Assim, em mútuo amor, eles viveram por longo tempo.
I:2:22 – Sentando, deitando,
comendo, bebendo e se divertindo juntos, eles não eram diferentes de qualquer
casal.
I:2:23 – Embora ele fosse
dissuadido repetidas vezes por sua mãe, pai, sua primeira esposa e outros, ele
nunca deu atenção a estas palavras, mas continuou em suas atividades
pecaminosas.
I:2:24 – Uma vez ele se tornou
tão enfurecido que matou sua mãe, seu pai e sua esposa (a primeira esposa) na
calada da noite enquanto eles dormiam, tomando posse de suas riquezas.
I:2:25 – Enamorado da cortesã ele
lhe entregou sua própria riqueza e também a riqueza que ele roubou de seu pai,
mãe e primeira esposa.
I:2:26 – Na companhia de sua prostituta,
ele costumava comer todos os tipos de alimentos proibidos, tornou-se viciado em
vinho e licores, e partilhou de sua comida no mesmo prato de sua concubina.
I:2:27 – Uma vez, em uma
oportunidade, ele veio para a cidade de Pratiṣṭhāna15. Ele viu um Templo de
Śiva onde homens santos estavam reunidos.
I:2:28 – Durante sua estadia lá,
ele foi afligido por uma febre aguda. Ele ouviu um discurso sobre Śiva
conduzido por um Brāhmaṇa.
I:2:29 – O Brāhmaṇa Devarāja
sofrendo de febre morreu no fim de um mês. Ele foi amarrado com laços pelos
serviçais de Yama e forçado a ir para a cidade de Yama.
I:2:30-33 – Em pouco tempo os
serviçais de Śiva, vestidos de branco, com cinzas sobre todo o corpo, usando
guirlandas de Rudrākṣa e portando tridentes em suas mãos, partiram furiosos do
Śiva Loka em direção à cidade de Yama (o Deus da morte) e os açoitaram.
Libertando Devarāja de suas garras, eles o estabeleceram em uma bonita
carruagem. Quando eles estavam prestes a ir para o Kailāsa, um grande tumulto
surgiu no meio da cidade de Yama ao saber que o próprio Dharmarāja (o Deus da
Morte) manifestou-Se.
I:2:34 – Vendo os quatro
mensageiros que pareciam como réplicas do próprio Rudra, Dharmarāja, o
conhecedor das virtudes, honrou-os conforme os costumes.
I:2:35 – Yama veio a saber de
tudo através de Sua visão de sabedoria. Por medo ele não questionou os nobres
serviçais de Śiva.
I:2:36 – Sendo devidamente
honrados e adorados por Yama, eles foram para o Kailāsa e entregaram o Brāhmaṇa
a Śiva, o próprio oceano de misericórdia, e à Divina Mãe Pārvatī.
I:2:37 – Abençoado, de fato, é a
estória do Śivapurāṇa, a mais sagrada de todas as estórias sagradas que ,por
meramente ouvi-la, qualifica até mesmo o maior dos pecadores à salvação.
I:2:38 – O grande assento de
Sadāśiva é a mais elevada morada e a mais nobre das posições que um escolar
védico exaltou sobre todos os Lokas (mundos).
I:2:39-40 – Devarāja,
o Brāhmaṇa inferior, viciado em vinho, enamorado de uma prostituta vil,
assassino de seu próprio pai, mãe e esposa, e que por ganância por dinheiro
tinha matado muitos Brāhmaṇas, Kṣatriyas, Vaiśyas, Śūdras e outros, tornou-se
uma alma liberada imediatamente ao alcançar aquele supremo Loka.
Fim do Capítulo 2 – A Liberação de Devarāja
Fim do Capítulo 2 – A Liberação de Devarāja
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15 – Praṣṭhāna – existem referencias a duas cidades do mesmo nome: (1)
uma cidade na confluência do rio Ganges e de Yamunā e capital dos primeiros
reis da raça lunar; (2) uma cidade em
Godāvarī e capital de Sālivahana. A última cidade pode ser identificada com a
moderna Paithan no distrito de Aurangabad. Ela era conhecida como Paiṭhīnasīpurī.
SKII.vii 14.34,37.
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