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Kāla-Cakra & Dik-Cakra - 1



Aṣṭadala Padma
– é um lótus (pādma) de oito (aṣṭa) pétalas, ou oito direções dos quadrantes. As outras duas direções são contadas como alto e baixo. O Kāla-Cakra está inserido no Dik-Cakra e mostra os eventos destrutivos que podem ocorrer na vida de uma pessoa. Ao contrário do Dik Cakra que mostra o lado construtivo da vida e o aspecto positivo.

Kāla Cakra – Também chamada a Roda do Tempo, mostra a direção dos planetas em seus aspectos negativos. Na gravura ele está representado como o quadrado desenhado em azul e os planetas em azul são os governantes destas direções.

Dik Cakra – É a referência para os Dikpālas, os guardiões dos quadrantes. Os planetas nesta direção mostram os seus aspectos positivos. Estes planetas funcionam como forças opostas que vencem as fraquezas daqueles situados no Kāla-Cakra. Na gravura ele está representado como o quadrado desenhado em verde e os planetas em verde são os governantes destas direções. 






JÚPITER

Júpiter governa a direção Nordeste do Dik-Cakra, a direção de Īśāna, mostra o conhecimento espiritual elevado que conduz a humanidade à liberação espiritual, ao bem-estar, ao equilíbrio em todos os sentidos. Aqui estão significados o elevado conhecimento dos śāstras. Bṛhaspati, o deva que governa sobre Júpiter, representa as disciplinas espirituais elevadas, tais como as escrituras sagradas, os Vedas, o Vedāṅta, o Jyotiṣa etc. Ele governa sobre todas as linguagens sagradas utilizadas em rituais, tais quais Sânscrito, Aramaico, Iorubá, Árabe, Latim e qualquer outra que tenha por objetivo a execução de rituais sagrados. Júpiter governa sobre as Leis (Dharma) e tudo que representa a verdade. Júpiter é kāraka de parā-vidyā, o conhecimento espiritual, mas, como ele é também o kāraka buddhi, então ele dá inteligência para compreensão tanto das questões espirituais quanto materiais. Júpiter confere entendimento sobre todos os rituais e é aquele que pode conceder tanto o conhecimento espiritual que dá mokṣa quanto riqueza (bhoga).

Já Rāhu nesta mesma direção, porém nas pétalas do kāla cakra, mostra a destruição deste conhecimento espiritual ou a utilização dele de modo destrutivo, uma vez que o Kāla-Cakra mostra a destruição das coisas.

A energia de Rāhu na mesma direção de Júpiter vem mostrar que o conhecimento espiritual pode ser utilizado de modo a destruir qualquer esperança de liberação, que ele pode ser manchado pelas fraquezas de Rāhu que é a ganância. Desse modo surgem os falsos religiosos, aqueles que vendem ilusões, que brincam com a fraqueza dos outros, vendendo a eles exatamente o que eles esperam – amuletos, rituais, milagres para enriquecimento rápido, cura para todos os seus males etc., sem que isso de fato funcione porque eles não têm autoridade espiritual para guiar ninguém (como veremos ao analisarmos as referências de Rāhu) . Neste ponto do Kāla-Cakra tudo que contribui para a deterioração do conhecimento espiritual começa a surgir e se espalhar pelo mundo, ou seja, o sincretismo, a perda da tradição, a quebra de paramparā, os śāstras distorcidos e manipulados pela ganância de paṇḍits astutos e mentirosos, a desconfiança instalada pelos falsos gurus, os escândalos, a queda do dharma e tantos outros. Para se defender de Rāhu, é preciso um esforço sobre-humano e fé absoluta em Īśāna.

Quando você adora a divindade, você se torna a divindade. Essa é a regra. Júpiter adora Īśāna, o aspecto de Śiva sem atributos, Senhor sobre Brahma, Viṣṇu e todos os demais. O Śiva Purāṇa descreve Īśāna como aquele que concede conhecimento e riqueza aos com inteligência, enquanto reprime os malfeitores. No Brahma Vaivarta Purāṇa, ele é descrito como o líder dos Dikpālas, os guardiões dos quadrantes, e sua posição é no Nordeste, pois ele é doador tanto de conhecimento (Leste, governado por Indra), quanto de riqueza (Norte, governado por Kubera), e sua posição intermediária garante que ele possa conceder conhecimento e riqueza. O Nordeste também é o ponto do quadrante antes do nascer do Sol (Leste), e significa o Brahmāmuhūrta, o momento que precede o nascer do Sol, e o momento para todas as atividade espirituais importantes. O Liṅga Purāṇa o descreve como o senhor onipresente de todos. No Kṛṣṇa Yajur Veda, Īśāna é descrito no pañcabrahma mantrāṇī, como uma das formas de Śiva, nos seguintes versos:

ईशान सर्वविद्यानामीश्वरः सर्वभूतानां ब्रह्मादिपति ब्रह्मणोऽधिपतिर्।
ब्रह्मा शिवो मे अस्तु स एव सदाशिव ओम्॥


Governante de todo conhecimento, Mestre de todos os seres
Comandante de todo estudo e devoção
Aquele Deus auspicioso para mim
Seja Ele apenas assim, o Sempre Auspicioso Om.

SOL

O Sol é o Controlador do Tempo (Kāla), pois sem ele não haveria medição do tempo. Ele é o governante do dia e senhor sobre todos os outros grahas. Ele governa sobre o passado, o presente e o futuro e as diferentes medições do tempo. Ou seja, ele é o controlador de toda a roda do tempo de um modo geral, muito embora represente o período de 6 meses no que tange às predições, tal como mostra a tabela abaixo:

Sol – Kāla Cakra

Graha     

Período

Dias aproximados

Sol

Ayana

6 meses

180 dias

Lua

Kṣaṇa

Momento

0 (1 muhūrta, 48 minutos)

Marte

Vāra

Dia

1

Mercúrio  

Ṛtu

Estação

60 dias (existem 6 estações na Índia)

Júpiter     

Māsa

Mês

30 dias

Vênus

Pakṣa

Quinzena

15 dias

Saturno

Samā

Ano

365

Rāhu

Aṣṭa-māsa

8 Meses

240

Ketu

Tri-māsa

3 Meses

90 dias


Sol está estabelecido na direção Leste do quadrante e adora Indra, o guardião  desta direção, para obter poder e habilidade de comando e liderança, pois você se torna o que você adora - esta é a regra.

Indra é o rei dos Devas, filhos de Aditī com o sábio Kaśyapa, um dos Sapta Ṛṣis. O Sol no Dik-Cakra (aspecto positivo) representa o nosso poder de comando, aquele de um kṣatriya dotado de sattvas guṇa, tal como Rāma Deva, inteiramente justo, puro e dotado das qualidades mais sublimes e sem qualquer mancha o falha (doṣa). 

Por sua vez, Sol no Kāla-Cakra (o aspecto negativo) representa o desejo de comando sem, no entanto, o mérito da autoridade em si, sem a presença de sattvas guṇa em seu discernimento de líder e, portanto, falho em todas as suas decisões. Se vocês observarem bem, não há nenhum planeta que se opõe ao Sol a não ser ele mesmo, demonstrando que é a própria alma ainda imatura para seus deveres (dharma) o único obstáculo para assumir uma posição de comando. Sol é a alma de tudo, o ātman.

Observem que o Kāla-Cakra é mapeado DENTRO do Dik-Cakra e não fora. Inverter essas posições é perigoso. Isso ocorre porque os Dikpālas devem proteger o Bhūpura nas suas portas de entrada,  e um guardião protege a entrada posicionando-se por fora (Dik-Cakra) e não dentro (Kāla-Cakra).



VÊNUS


Vênus está estabelecido na direção Sudeste do quadrante e adora Agni deva porque assim ele obterá a imortalidade.

agnirme vāci śritaḥ | vāgdhṛdaye | hṛdayaṁ | ahamamṛte | amṛtaṁ brahmaṇi | vāyurme prāṇe śritaḥ | prāṇo hṛdaye | hṛdayaṁ mayi |

SIGNIFICADO: Que Agni guie minha fala. Que esse discurso seja guiado pelo meu coração. Que esse coração seja guiado pela imortalidade. Essa imortalidade que é Brahman – Rudra Prashna, Laghunyasa.

Assim como ele recebeu o mantra da imortalidade de Śivaji após intensa penitência, assim ele continua a desejar a imortalidade ao seu posicionar no Sudeste do quadrante e adorar Agni, uma expressão de Rudra Deva. Agni é a segunda divindade mais mencionada no Ṛk Veda, a primeira divindade é Indra. Quando Vênus adora Agni, ele se torna Agni e impede a morte causada pela ferocidade de Marte neste mesmo quadrante, mas no kāla-cakra. Ou seja, ele obstrui a fúria de Marte, um kṣatriya tamásico e brutal.

Śukra é a divindade que preside sobre Vênus. Śukra é um estrategista militar, ele não é doce e suave, tampouco Vênus o é. Vênus é rajas guṇa e não há doçura ou quietude neste graha. Sendo assim, como ele pode obstruir Marte naquele quadrante? Simplesmente por adorar Agni Deva, uma expressão do próprio Rudra Deva, o Destruidor, com tamanha penitência que ele recebe o mantra da imortalidade e assim põe fim à matança patrocinada por Marte, o deus da guerra.

Outra analogia para a obstrução de Vênus sobre o ímpeto destruidor de Marte é o fato de Marte ser um kṣatriya celibatário, pois está sempre focado na guerra e distante de sua família. Vênus, como kāraka de casamento, obstrui a energia celibatária de Marte e o obriga a casar e ter filhos. Essa analogia muito se assemelha à história purāṇika de Śiva como um asceta que se recusa a casar. Os deuses, temerosos de que o mundo fosse acabar porque Śiva não queria casar e ter filhos, pedem a Kāmadeva que o faça olhar para Pārvatī, a deusa que se tornaria a esposa de Śiva. Ao se aproximarem de Śiva em meditação, este sente a presença do deus do amor e abre os olhos, nota Pārvatī e logo se encanta por ela. Mas, nesse mesmo tempo, percebe que o deus do amor estava prestes a manipular seus sentimentos e o incinera, matando-o. Em seguida, a pedido dos deuses, Śiva ressuscita Kāmadeva. Nesta analogia, Śiva se assemelha a Marte, alguém focado em uma ação que não é o casamento e Kāmadeva se assemelha a Vênus, o deus do amor e significador do casamento.

MARTE


Marte ocupa a direção Sul e adora Yama, o Dharmarāja e deus da morte, pois ele quer ser sempre vitorioso em batalha. Ele tem que pedir as bênçãos de Yama para não morrer em batalha ao mesmo tempo em que mata seus inimigos.

Yama é conhecido como Dharmarāja por uma bênção obtida de seu pai, Sūrya deva. Ele é chamado Dharmarāja por ter um profundo conhecimento do Dharma (as leis) e é por meio da aplicação dessas leis que ele decide para onde vai a alma depois de abandonar seu corpo material.

Júpiter é um graha benevolente e avesso a todos os tipos de conflitos. É dito que quem possui Júpiter na casa 2 não brigará com ninguém, pois Júpiter nessa casa causa argalā sobre o ascendente e torna o discurso suave e avesso a qualquer tipo de provocação. É Marte quem dá a Júpiter o ímpeto para se posicionar na realização dos seus deveres. Sem a coragem e bravura de Marte, Júpiter não realiza seus deveres e tampouco consegue se defender, uma vez que ele é um brāhmaṇe e não conhece táticas de guerra ou de defesa pessoal.

RAHU


Rāhu ocupa a direção Sudoeste e adora Nirṛti, a deusa da destruição e da decadência, para conseguir sucesso em causar desordem e ilegalidade no mundo. O termo nirṛti foi utilizado nos textos védicos para se referir a um reino de escuridão e ausência de tudo que pudesse significar vida. O Sudoeste é a sua morada, assim como o reino dos mortos, como descrito no Shatapatha Brahmana. Em alguns textos ela é mencionada como uma deusa, a esposa de Adharma (o não-Dharma) e mãe de três Rakṣāsas, Mṛtyu (morte), Bhaya (medo) e Mahābhaya (terror). Outros textos dizem que ela é filha de Adharma e de Himsa (a violência), casou-se com seu irmão Aṛta e teve dois filhos, Naraka (inferno) e Bhaya. Em outro texto ela é descrita como semelhante à Jyeṣṭhā ou Alakṣmī, a deusa da pobreza. De acordo com alguns estudiosos, Nirṛti se tornou um homem e posteriormente se tornou um dos Dikpālas.

Rāhu obstrui Mercúrio nessa direção para dar a ele sagacidade e esperteza, pois Mercúrio é muito virtuoso, puro e ingênuo em suas ações. Mercúrio é o destruidor das energias maliciosas de Rāhu e este o destruidor da pureza de Mercúrio. Mercúrio governa sobre o Dik-Cakra da direção Norte, a direção da riqueza, de Kubera Deva, e Rāhu governa sobre a direção Sudoeste, a direção de Nirṛti, a ausência de qualquer tipo de riqueza, comida ou bem material que possibilite a existência material. Por isso Rāhu é um poço sem fundo de cobiça, pois tudo que ele devora é imediatamente lançado na inexistência material e nada do que ele consome pode alimentá-lo. 


SATURNO

Saturno ocupa a direção Oeste e adora Varuṇa, o guardião do tempo, das leis antigas, da justiça (ṛta) e da verdade (satya). Ele precisa adorar Varuṇa para que consiga estabelecer a lei e a justiça no mundo como o Senhor do Karma, das Leis e da Justiça.

Varuṇa é mencionado nos Vedas como o guardião das águas do céu, dos oceanos e da imortalidade. É dito que ele é um ferreiro e mago e possui um conhecimento vasto da criação, foi o responsável por organizar os ciclos do Sol, as fases da Lua e colocar cada rio em seu fluxo. Por conta disso ele se tornou o rei de todos os deuses, até que um monstro o desafiou. Conta-se que uma profecia revelou que ele não poderia vencer o monstro e somente um deus, que ainda não era nascido, haveria de vencê-lo. Esse deus foi Indra que, após vencer o monstro, tornou-se o novo rei dos deuses. Varuṇa, por sua vez, tornou-se o deus dos oceanos.

Nas escrituras posteriores aos Vedas, os Purāṇas, Varuna é mencionado como o guardião da direção Oeste e seu nome deriva da raiz verbal Vṛ, o qual significa restringir, amarrar, cercar. É uma referência dada ao seu poder de limitar o fluxo das águas dos rios e oceanos, para que as águas sejam restringidas a um determinado espaço. É uma referência também às restrições aplicadas pelas leis e justiça (ṛta).

Saturno nesta direção tem como objetivo controlar a energia passional de Vênus e arrefecer as paixões provocadas por ele, limitando e restringindo as atividades de Vênus através das leis e da justiça, criando códigos morais, comportamentos adequados e semelhantes que devem ser seguidos dentro de uma comunidade ou sociedade pelo bem de todos. Vênus representa a música, a sensualidade, os encontros sociais, as festas regadas à bebida e sexo. Saturno impõe regras de conduta morais e isso limita as atividades de Vênus. 


LUA

Lua ocupa a direção Noroeste do quadrante e adora Vāyu, o deus do vento, dos prāṇas porque ela precisa do poder de Vāyu para doar vida a tudo que existe.

Vāyu é o controlador dos prāṇas, os quais são os ares vitais. Quando o prāṇa deixa o corpo, a pessoa morre. Nos Vedas, Vāyu é mencionado como o deus dos ventos e o primeiro dos deuses a receber o soma, amṛta da imortalidade. No Brhadaranyaka Upaniṣad, é mencionada uma disputa entre os deuses que controlam as atividades corporais para saber quem era o mais importante dentre eles. Uma a uma as divindades foram se revezando para deixar o corpo de um homem e ele continuava a sobreviver. Mas, quando Mukhya Prāṇa se preparou para deixar o corpo, todas as outras divindades começaram a serem arrancadas daquele corpo. Isso fez com que as divindades percebessem que só poderiam funcionar pela força de Vāyu. Nesta mesma Upaniṣad é dito que os Rudras são as dez energias vitais do corpo e o Ātman como o 11º Rudra. Assim, Rudra é a divindade que mantém a respiração vital (prāṇa-vāyu). No momento da morte, os ares vitais e ātman abandonam o corpo e por isso Rudra é conhecido como o destruidor.

Lua obstrui a parte negativa de Saturno nesta direção do quadrante, pois ela é a doadora de vida e Saturno representa a doença, a estagnação e tudo que leva à morte em seu aspecto negativo. Lua influencia beneficamente Saturno e é solicitada em rituais para aumentar a longevidade e erradicar doenças.


MERCÚRIO

Mercúrio ocupa a direção Norte do quadrante e adora Kubera deva, o deus da riqueza material, pois ele precisa assegurar prosperidade em seus negócios. Kubera é um Yakṣa, um ser celestial, mas ele consegue se tornar um deva e recebe a direção Norte como seu quadrante. Leia mais sobre Kubera AQUI.

Mercúrio precisa do siddhi de Kubera para prosperar em seus negócios, por isso ele adora essa divindade. Ele é racional e lógico, pois pensa em termos de negócios. Assim, ele obstrui os aspectos mais maternais da Lua e não pode pensar como ela no sentido de cuidar e nutrir todos os seres, pois isso o levaria à falência.


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